Se deixarmos o computador de lado e nos atrevermos a abrir um livro – “História da Política Exterior do Brasil”, por exemplo, da Editora UnB, cuja leitura é indicada àqueles que se arrisquem em concursos para ingresso no Itamaraty – encontraremos alguém de bastante projeção nos meios universitários nos explicando, entre outras coisas muito e muito curiosas se não espantosas, que “Com relação à política platina, o Parlamento esteve coeso e unânime em aprovar os recursos para manter a guerra contra Buenos Aires, cuja condução confiou ao Executivo sem contestação. Nem todos concordavam com a justiça da guerra movida pelo Governo brasileiro” (que significaria “coesão”? e “unanimidade”?). Ou saindo-se com esta: “Os defensores da ordem eram liberais, porém não ao estilo rousseauniano” (que raios seria um “liberal ao estilo rousseauniano”?). Ou com esta mais: “O conservadorismo político, dotado de senso realista, com seus planos de reformas lentas, era um freio a mudanças…” que nem merece qualquer comentário… Ou mereceria?
E por aí foi e por aí vai o impresso.
É… Ideologia é um negócio muito complicado…
Pois muito bem. Voltando ao computador, receberemos aulas magnas ao vivo e em cores.
Por exemplo: https://www.facebook.com/photo.php?v=10201463122889382 – uma aula magna a respeito de como, partindo-se de premissas absolutamente corretas (o enunciado do que venha a ser o capitalismo e do que seja o socialismo), será possível formular-se uma conclusão absolutamente troncha, raquítica e burra: a de que só o “Livre Mercado” nos salva.
Vá ter fé, ser iludido e tentar iludir assim no Inferno, que, de boas intenções, sempre esteve entupido! Vá mergulhar na história dos países tradicionalmente capitalistas que conseguiram imprimir em seus territórios um relativo bem estar social para verificar se alguma vez o Estado foi menosprezado ou abdicou de planejar e de interferir na Economia! Ah… mas… então é por isso, porque sempre o Estado burocrático e autoritário interveio e barrou a livre iniciativa iluminada, que um “laissez faire, laissez passer, le monde va de lui même” ainda não logrou nos levar, todos, a conhecer o reino dos céus…
Fé ardorosa? Ilusão colorida? Santa ingenuidade? Ora, francamente! Quanta estupidez!
É… Ideologia é um negócio muito complicado… E nisso é que dá criarem-se Faculdades que se limitam a exigir dos alunos (que, em seguida, serão professores) que mastiguem e cuspam, tanto à esquerda quanto à direita, as “grandes teses” elaboradas para consumo na periferia que esvoaçam no mainstream internacional.
Quando vamos parar de ter tanta fé em reducionismos de 5ª categoria? Algum dia? Quando nos levaremos a sério? Quando haveremos de querer, de fato, partir para a discussão de como encontrar uma solução real para nossos problemas reais, baseados em nossas reais condições, em nossa História real, na realidade que nos cerca, sem que nos satisfaçamos com campanhas para tentar substituir, no nosso Governo, na administração de nossas coisas públicas, os seis por uma meia-dúzia (ou por uma meia-dezena, por um meio termo, por uma meia hora, por umas meias-calças, por qualquer meia-boca, por meia volta e volta e meia vamos dar…)? Nunca?
Ou só depois que nosso Estado – que reclama permanente discussão Política, em estrito e amplo sentidos, nem que seja para que possamos acompanhar os tempos – se vir transformado em poeira cósmica?
Que poderá orientar o raciocínio dos minimamente bem intencionados? É isso aí, o que se lê em um livro oficialmente recomendado, de uma incoerência a toda prova, ou o que se vê e se ouve no vídeo (fofo?) divulgado, de um reacionarismo absurdo, que nos exige regredir ao tempo das caravelas, que quer ser reconhecido como “conservador” e substituir qualquer proposta anti-liberal, por mais fofa que possa esta ser? Ou seria, por acaso, o destempero típico de classe média AA+ moradora do Leblon, com todos os seus típicos problemas existenciais, aquela que está mais para VIP emergida que para aristocracia falida, em seus 6:59 minutos de glória, afiadinha-afiadinha, capacitada e bem disposta a bater boca de frente, no mesmo nível, com qualquer Marilena Chauí?
Definitivamente, sem um princípio correto, sem objetivos claros e muito bem determinados, sem planejamento e sem direção centralizada ninguém chegou, nunca, e ninguém chegará, jamais, a lugar algum!
E é exatamente por isso, e porque a nada disso atentamos, que nos vemos eternamente derrapando no mesmo lugar, que há de permanecer, para todo o sempre, enlameado. Do jeito que o Brasil está. E nos promete ficar.
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