– “No dia em que falarem para vocês que caiu um raio, vocês gargalhem … eu não posso querer que tenha chuva e não tenha raio … Não é sério dizer que o sistema caiu por causa do raio. Se caiu por causa do raio, teve falha humana … porque raio vai cair” – Dilma Rousseff
Embora os diferentes sistemas concebidos mantenham entre si algumas características semelhantes e equivalentes articulações intrínsecas, para opinar sobre um sistema qualquer e suas vulnerabilidades é preciso minimamente conhecê-lo em seus elementos. Não vim aqui, portanto, dizer do sistema elétrico, que não conheço suficientemente. Vim dizer de apagões que também vêm merecendo gargalhadas. Faz tempo. Não somente as incentivadas por Rousseff.
Recebi há alguns dias um comentário: “Aspecto interessante a observar: apesar do tamanho da nota, NENHUMA PALAVRA sobre a colocação das FORÇAS ARMADAS como a Instituição de maior credibilidade. E tome pau na Polícia e no Judiciário que estão criando problemas para os pilantras de plantão. Esquerdopatia é doença séria…”
A esse comentário seguia-se o que havia sido publicado em oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/12/15/judiciario-pouco-ou-nada-confiavel-mostra-estudo-479064.asp
Para opinar sobre pesquisas de opinião é também preciso saber minimamente interpretá-las. E para confiar minimamente em uma opinião a respeito de uma pesquisa de opinião é preciso saber interpretar a interpretação expressa nessa opinião. Mas, seja qual for a forma como possam ser lidas e compreendidas, as opiniões e as pesquisas de opinião não nos revelarão qualquer verdade absoluta. Embora possam nos animar (ou obrigar) a pensar…
A pesquisa da FGV a que se refere o comentário acima transcrito nos diz que as FFAA gozam da confiança de 75% da população. Muito bem. As Armas são fundamentais à manutenção do Estado Nacional. Consideráveis ¾ da população as aprovam, enquanto o Governo Federal obteve 41% de aprovação, o Judiciário e a Polícia obtiveram 39%, o Congresso obteve 19% e os Partidos políticos obtiveram 7%.
Que significam esses percentuais? São suficientes para que celebremos algum fenômeno extraordinário em nosso País? Que traduzem eles, afinal? Que estamos em uma democracia plena e bem estruturada? Traduzem a necessária consciência do Estado? Traduzem que a população se sente em segurança? Que ela tem confiança na Ordem ou no Progresso? Traduzem, pelo contrário, que temos um “Estado forte”?
Pois bem: se, nessa pesquisa, consagrando algumas pesquisas anteriores, as FFAA obtiveram 75%, em outra, também recente, Dilma Rousseff obteve 72% de aprovação da população – enquanto, repito, o Governo Federal obteve 41%, o Judiciário e a Polícia obtiveram 39%, o Congresso obteve 19% e os Partidos políticos obtiveram 7%.
E então? Muito bem, também?
A confiar nos números, que mostram que o índice de aprovação da Presidente a bem dizer coincide com o de confiabilidade atribuída às FFAA, a uma única conclusão chegaremos: a de que aqueles 75% de confiabilidade atribuído às FFAA devem-se ao fato de que a população as vê como a garantia da manutenção de um regime (eu disse “um regime”, não “um Estado”) forte que cada vez mais se fortalece. Para essa grossa e pesada fatia da população, esse regime resume-se à figura presidencial – entidade superior, autônoma, escolhida pela maioria, que, no imaginário de mais de 70% da população nacional, deve pairar, “soberana”, acima de qualquer Instituição; e que, por ser, constitucionalmente, Comandante em Chefe das FFAA, escolhe e nomeia os Comandantes dessas Forças aos quais as tropas, disciplinadas, obedecem.
Por isso, nelas, nas FFAA, a maioria da população vem confiando. Embora desconfie das demais Instituições. O que é não mais nem menos que simplesmente assustador! E os declarados 75% de aprovação só poderão alegrar ou mesmo apenas surpreender aqueles que se recusam a aceitar este fato: o de que a população hoje vê as FFAA como o respaldo incondicional não exatamente “do Governo” – que é uma Instituição do Estado e a pesquisa mostra que goza de 59% de desconfiança – mas da figura individual da Presidente, que deve ser pelas Armas protegida e deve manter a certeza de que suas ordens serão cumpridas sejam quais forem e haja o que houver.
Nada mais que isso o cruzamento do resultado das pesquisas significa. E, porque nada mais que isso significa, algo por aqui deveria estar sendo considerado como muito errado… Ou não?
Ontem recebi outro comentário, que transcrevo abaixo (2), sobre a primeira pesquisa citada. O que é sinal de que o índice de aprovação das FFAA e o de desaprovação das demais instituições impressionaram… A última notícia de 13/12/2012 da Agência Brasil (3) a respeito da pesquisa da FGV, no entanto, chama atenção, em seu título, apenas para os 60% dos brasileiros que reprovam atuação da Polícia. Devemos, então, comemorar ou lamentar o fato de que as FFAA – que não estão, em absoluto, “criando problemas para os pilantras de plantão” – sejam enfim reconhecidas como uma instituição de extraordinária credibilidade popular?
Em um ponto disso tudo, surpreendentemente, Rousseff terá plena razão: quando afirma, em seu habitual tatibitate, que não podemos “querer que tenha chuva e não tenha raio… Se o sistema caiu, “teve falha humana porque raio vai cair”. Ah, que vai, vai… Disso sabemos todos. Assim como muitos raios já caíram e nos causaram imensos estragos. Literal e figuradamente. Todos eles caíram sobre nossas cabeças supostamente pensantes, em nada e ninguém mais, torrando definitivamente algumas delas. Mesmo assim, “não é sério dizer que o sistema caiu por causa do raio”…
Sistema por sistema, últimas perguntas do ano, então, a quem ainda pensa, gosta de pensar e não desiste disso: quando e por que raios ou falta de raios foi que sofremos apagões em nosso sistema de energia elétrica? O primeiro não se deu em 1985, seguido de outro em 1999 e, com um racionamento de permeio (2000/2002), outro mais em 2009? E quando e por que raios ou falta de raios foi que a nossa Força Terrestre “resolveu”, contra o texto constitucional, invertendo suas funções em um típico apagão do sistema de energia política, tomar a si a “missão” de expulsar os invasores dos espaços particulares dos quais gozava uma autoridade nacional? Já não lá se vão 12 divertidas Primaveras? Nesse tempo todo, que mais fizemos além de gargalhar? Quem, afinal, deveria mostrar-se muito preocupado e estar tentando encontrar uma forma de dar um basta nos efeitos todos dessa constante tempestade mal direcionada que, seca ou molhada, assistimos confortavelmente esparramados em nossos estofados? Os Comandantes militares? Onde e como, exatamente, entram os Comandantes militares nessa história toda? Com que, exatamente, estariam hoje os Comandantes preocupados? Por quê? Quais reparos na ordem (no sistema) poderiam eles estar hoje pensando em providenciar? E, por fim: a “doença séria” que temos a enfrentar, e deveríamos enfrentar com seriedade, seria, de fato, uma “esquerdopatia” epidêmica? Ou é algo bem mais grave, talvez já crônico, mas talvez ainda mais contagioso e letal?
Bem, ao que tudo nos indica, teremos um 2013 muito alegre, de muitas e muitas gargalhadas mais… Ou por que raios ou falta de raios seria diferente, não tão alegre assim, o nosso próximo ano?
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(1) Pesquisa CNI/Ibope: aprovação do governo Dilma supera Lula e FHC
16 de Dezembro de 2011 – 11h04 – atualizado às 12h49
Pesquisa do Instituto Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada nesta sexta-feira registra 72% na aprovação pessoal da presidente Dilma Rousseff, um ponto percentual acima do último levantamento, datado de setembro. O desempenho do governo federal é avaliado como ótimo ou bom por 56% dos entrevistados, patamar cinco pontos percentuais acima da última pesquisa e a mesma cifra que a melhor avaliação positiva de seu governo, medida apenas três meses após a posse. (…) noticias.terra.com.br/brasil/politica/pesquisa-cniibope-aprovacao-do-governo-dilma-supera-lula-e-fhc,a8880a43aa1da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
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(2) Agência Brasil – AS FORÇAS ARMADAS CONTINUAM LIDERANDO na CONFIANÇA da POPULAÇÃO
O relatório sobre a confiança da população na Justiça, elaborado pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostrou que 63% dos brasileiros estão pouco ou muito insatisfeitos com a atuação da polícia. O percentual de insatisfação foi maior entre os mais pobres, 65%, e ficou em 62% entre os mais ricos.
A pesquisa também traz o Índice de Confiança na Justiça que, no segundo e terceiro trimestres deste ano, registrou 5,5 pontos, considerando uma escala de 0 a 10. O índice é obtido com base em casos concretos, como quando o cidadão recorre ao Judiciário para resolver conflitos. O indicador leva em conta a opinião da população em relação à celeridade, honestidade, neutralidade e custos de acesso à Justiça.
Segundo a pesquisa, o Judiciário é considerado moroso para 90% dos entrevistados, por solucionar os processos de forma lenta ou muito lenta. Além disso, 82% das pessoas consideram alto ou muito alto os custos de acesso ao Judiciário e 68% acreditam ser difícil ou muito difícil usar o sistema. Outro dado revela que 64% dos pesquisados avaliam o Judiciário como nada ou pouco honesto, e 61% nada ou pouco independente.
No ranking das instituições mais confiáveis, as Forças Armadas lideram com 75% das opiniões, seguida pela Igreja Católica (56%), Ministério Público (53%), grandes empresas (46%), imprensa escrita (46%), governo federal (41%), polícia (39%), Poder Judiciário (39%), emissoras de TV (35%), vizinhos (30%), Congresso Nacional (19%) e partidos políticos (7%).
Foi avaliada também a confiança em relação a determinados grupos do convívio social. A família ficou em primeiro lugar, obtendo a confiança de 89%, seguida por colegas de trabalho (34%), vizinhos (30%) e, em último lugar, pessoas em geral (21%).
A pesquisa ouviu 3.300 pessoas no Distrito Federal e em sete estados (Amazonas, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul), no segundo e terceiro trimestres do ano.
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(3) Mais de 60% dos brasileiros reprovam atuação da polícia, diz FGV
13/12/2012 – 15h57 – Justiça – Fernanda Cruz – Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O relatório sobre a confiança da população na Justiça, elaborado pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostrou que 63% dos brasileiros estão pouco ou muito insatisfeitos com a atuação da polícia. O percentual de insatisfação foi maior entre os mais pobres, 65%, e ficou em 62% entre os mais ricos.
“É um dado alarmante, principalmente se considerarmos os últimos acontecimentos envolvendo o assassinato de policiais e diversas pessoas na periferia [de São Paulo]”, disse Luciana Gross Cunha, professora da FGV e coordenadora do Índice de Confiança na Justiça (ICJBrasil).
A pesquisa também traz o Índice de Confiança na Justiça que, no segundo e terceiro trimestres deste ano, registrou 5,5 pontos, considerando uma escala de 0 a 10. O índice é obtido com base em casos concretos, como quando o cidadão recorre ao Judiciário para resolver conflitos. O indicador leva em conta a opinião da população em relação à celeridade, honestidade, neutralidade e custos de acesso à Justiça.
Segundo a pesquisa, o Judiciário é considerado moroso para 90% dos entrevistados, por solucionar os processos de forma lenta ou muito lenta. Além disso, 82% das pessoas consideram alto ou muito alto os custos de acesso ao Judiciário e 68% acreditam ser difícil ou muito difícil usar o sistema. Outro dado revela que 64% dos pesquisados avaliam o Judiciário como nada ou pouco honesto, e 61% nada ou pouco independente.
No ranking das instituições mais confiáveis, as Forças Armadas lideram com 75% das opiniões, seguida pela Igreja Católica (56%), Ministério Público (53%), grandes empresas (46%), imprensa escrita (46%), governo federal (41%), polícia (39%), Poder Judiciário (39%), emissoras de TV (35%), vizinhos (30%), Congresso Nacional (19%) e partidos políticos (7%).
Foi avaliada também a confiança em relação a determinados grupos do convívio social. A família ficou em primeiro lugar, obtendo a confiança de 89%, seguida por colegas de trabalho (34%), vizinhos (30%) e, em último lugar, pessoas em geral (21%).
A pesquisa ouviu 3.300 pessoas no Distrito Federal e em sete estados (Amazonas, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul), no segundo e terceiro trimestres do ano.
Edição: Carolina Pimentel
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