Nenhuma regra esperta criada por qualquer indivíduo esperto ou qualquer grupo esperto para fazer funcionar qualquer sistema eleitoral esperto deverá substituir a consciência de um cidadão.
Segundo informação da Agência Brasil (*), 30% dos eleitores compareceram às urnas nas eleições municipais chilenas. Quando, portanto, 70% deles se abstiveram. Caso o comparecimento, lá, no Chile, fosse obrigatório, tal como é cá, no Brasil, é bem possível supor que 70% da população chilena votasse em branco ou anulasse o seu voto. Independentemente do tipo e do grau de suas necessidades vitais, para os que compõem esse percentual que se absteve, as eleições talvez nada mais sejam que um circo (de horror) armado em praça pública, tal como aqui elas são. Conforme o que podem observar, a realidade não se altera seja quem for que se eleja. Para que participar ou fingir participar do espetáculo? Acaso ele é divertido?
Por que deveríamos nós, brasileiros, escolher entre o nada e o coisa nenhuma para que esse nada ou esse coisa nenhuma possa dizer que “nos representa”, se o que podemos considerar correto não é contemplado nas campanhas eleitorais, nem nas ações do Executivo, nem nas discussões nas Casas Legislativas, e se, dessa nossa “democracia”, aproveitam-se, de uma forma ou de outra, direta ou indiretamente, no cargo, na suplência ou em diferentes funções que dependem exclusivamente da indicação dos eleitos, todos os cretinos que se apresentam a nós somente quando é tempo de conquistar e/ou renovar sinecuras?
Se nosso comparecimento à seção eleitoral é obrigatório, em nenhum momento nos será obrigatório emprestar confiança a algum candidato, ou nos será obrigatório escolher o “menos ruim” entre todos os ruins. Não existirá um menos ruim entre os reconhecidamente ruins, pois o que é ruim é ruim. E bem pior será “legitimar”, com nossa presumida escolha, Partidos políticos que nada representam senão interesses pessoais ou grupais e indivíduos e grupos cujos projetos são uma afronta explícita à Nação. Isso sim seria uma atitude irresponsável.
Quando não há alternativa decente, a única saída que o cidadão encontra é anular o seu voto ou votar em branco. Para que não se agrave o quadro político. O que não deixa de ser um risco porque não se conhece o programa da urna eletrônica. Mas o voto nulo e o voto em branco não são, nunca foram e nunca serão uma omissão – serão uma inequívoca demonstração de repugnância ao que vem se comportando de forma repugnante. E nenhuma culpa como se tivesse agido irresponsavelmente deverá esse cidadão assumir ao ver que seu País vai por água abaixo – ele terá certeza que com isso não colaborou; pelo contrário, fez questão de denunciar e repudiar. E poderá sempre, a qualquer momento, reagir com coerência.
Se votar não é um direito nem é uma opção, mas transformou-se em uma obrigação de recolocar os mesmos nos mesmos lugares em que se colocaram, perpetuando-os, votar não será necessário. Necessário será encontrar urgentemente formas de fato eficazes de reagir a essa situação intolerável. Uma situação que deveria ser considerada insustentável.
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