Um Filósofo, Professor de uma das mais conceituadas Universidades do País, que goza de espaço privilegiado em jornal de considerável circulação e não costuma ser muito estúpido em suas manifestações, levantou há alguns dias (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2014/04/1443306-por-uma-direita-festiva.shtml) uma bandeira e uma plataforma políticas: é preciso criar-se uma “direita festiva”
Por quê? Ele explica: porque “o maior desafio para um jovem estudante liberal no Brasil é pegar mulher”; porque não “pode haver paraíso melhor para se conhecer meninas ‘donas do seu corpo’ ” que “os cursos como psicologia, letras, ciências sociais, pedagogia e afins” (estaria o curso de Filosofia entre esses “afins”?) – eles são um “celeiro de meninas que curtem papo cabeça e política”, mas são “todos de esquerda”; porque “quando liberais se reúnem há uma forte escassez de mulheres, o que é sempre um drama. E quando junta muito homem falando papo cabeça sem mulher por perto, todos ficam com cara de Sheldon [os não iniciados podem ser esclarecidos em http://pt.wikipedia.org/wiki/Sheldon_Cooper]. Sem mulheres, tudo fica chato em algum momento. Como resolver um problema sério como esse?”
Segundo o Filósofo, esse sério problema se resolveria ao ser criada uma “direita festiva”, ora! Simples assim.
Eu diria que esse cidadão muito se equivoca. Não faz falta criar-se uma “direita festiva”: a nossa “direita festiva” já existe, e não é muito difícil encontrá-la. Ele mesmo, o nosso cronista-filósofo, é a prova disso, ao vivo e em cores; ele mesmo se demonstra como um dos mais legítimos representantes dessa nossa “direita festiva” que se manifesta assiduamente nos Partidos políticos, nos palanques, nos veículos de comunicação de massa e em nossas salas de aula, de diversas formas. Mas até a festividade tem limites. Então, eu diria também que ou ele bebeu antes de escrever aquela… bobagem (?), ou pirou de vez, ou foi cooptado pela esquerda e tratou de desmoralizar todos aqueles que são apontados como sendo “de direita” – e assim o são por opor-se frontalmente à demagogia de uma esquerda que é e nunca deixou de ser festiva, nada séria, mesmo e principalmente nas atitudes e nos discursos dos mais radicais “companheiros”.
De um jeito ou de outro, esse cidadão destrambelhou. Perdeu completamente a compostura. Estará se achando engraçadinho? É de assustar! Muito embora o voluntarismo seja uma “filosofia” bastante freqüentada tanto pela dita direita quanto pela dita esquerda (conferir o muxoxo magoado de um “analista político” quando “suas verdades” não se comprovaram como verdades verdadeiras tal como gostaria que se comprovassem em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi/2014/04/1444577-a-verdade-e-suas-versoes.shtml), exceto em Lula da Silva, em Rousseff e em Chauí, nunca vi tanta asnice festiva acumulada em tão poucos parágrafos.
Em suma: como a esquerda festiva chegou ao poder, como na oposição se destaca uma direita festiva, como aqueles que são conservadores no mais elevado sentido do termo não se revelam, não se organizam e não se impõem, é possível compreender por que esse nosso País se desmancha sob nosso olhar complacente – porque “A” gloriosa festiva, em suas alas de esquerda, de direita ou de centro, sempre terá sido e será, em todos os tempos, “a tendência hegemônica” na Política. E também poderemos compreender por que a boa direita, a saudável, a consciente, preocupada, bem intencionada, nacional, não se organiza – não se organiza exatamente porque os festivos todos tomaram conta do pedaço e a sufocam com suas “filosofias” quando não também com suas “psicologias”, sem lhe permitir qualquer espaço de manobra.
Quando, no facebook, comentei a respeito desse texto tão “filosófico”, alguém, que estúpido também não é, pulou em sua defesa: ”Pondé está certo. Como o mal falado Freud, a questão TAMBÉM é sexual.” Pelo visto, o texto terá também um forte conteúdo… “psicanalítico”… a considerar… Contestei: “É, né? Você acha que é… Pondé acha que é… Então deve ser… E o vinho? Estava bom?” A resposta foi: “A situação é ridícula, não a exposição da situação. Sobre o vinho, difícil não estar bom.”
Realmente, é a situação que é muito ridícula – a situação, não a exposição. Expor-se a essa situação não é ridículo – é apenas deprimente. A situação, não a exposição, é ridícula a começar porque é não mais que ridículo que alguém se preocupe com que varões jovens ou velhos tenham facilidade ou dificuldade em “pegar mulher“. Ridículo também será um Filósofo, um Professor Universitário, que jovem já não é, discorrer a respeito de conceituais dificuldades para “pegar mulher“. E mais ridículo ainda é isso ter sido feito por escrito, no espaço de uma coluna de um jornal de grande circulação.
Aliás, para “pegar mulher” ou pegar qualquer coisa, bastará qualquer imbecil jovem ou velho, liberal ou não, interromper qualquer hipotético “papo-cabeça” que o entretenha e dispor-se a pagar que nem precisará assoviar em qualquer das inúmeras esquinas da vida. Na Universidade, inclusive, a oferta dos serviços é farta e variada (conf. p.ex. em http://www2.uol.com.br/vyaestelar/garotas_de_programa_de_classe_alta.htm), e tem sido também justificada – inclusive e principalmente pelos ditos liberais, que são, sem dúvida alguma, bastante coerentes – pelo alto custo dos cursos, sejam esses cursos quais forem. Nada disso é bom, não, não é, assim como nada bons serão muitos dos vinhos “de marca”. E deprimente, não ridículo, é também ver o lixo em que a Universidade brasileira se transformou. E ver que, com isso, ninguém se preocupa.
Além de que, se a ironia bem articulada pode ser considerada um sinal de inteligência, o deboche é nada mais que ridículo, qualquer que seja o estágio de evolução de uma “‘vibe’ darwiniana“. É de um deboche explícito toda essa situação. Mais que deboche, porém, mais que desaforo, mais que uma ofensa inequívoca, é muita ignorância alguém encher a boca para afirmar que “as meninas destetam [?? – SIC] economia, essa ‘ciência triste’, porque atrapalha a alegria de viver”.
O que falta de fato à nossa direita, se direita ela de fato for, é exigir, dela mesma, mais decoro, é cuidar de ser um pouco mais séria e minimamente mais respeitosa com quem merece, por princípio, algum respeito – nós mesmos. É dobrar a língua quando falar do que é nosso, porque nosso é. Além de que nenhuma proposta e nenhuma prática de fato “de direita” (por oposição à cretinice das propostas e das práticas vigentes) conseguirá criar-se neste País caso a direita se predisponha a disputar adeptos com a esquerda usando as mesmas armas e a mesma “filosofia” cujo expoente máximo consagrado entre nós foi Jece Valadão.
Por fim, quem pugna pública ou reservadamente por uma “direita festiva” para resolver um problema que liberais estejam enfrentando para “pegar mulher” não poderá reclamar do comentário feito pela “esquerda-caviar”, que festiva e só festiva é, encastelada na Revista Piauí (http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/herald/celebridades/ponde-anuncia-celibato). Não poderá, não. Porque faz por merecer. Que papelão!
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