SE ALGUNS TARDAM, NENHUM DELES FALHA

 

 

 

      Às vésperas do que vem prometendo ser uma grande mobilização nacional, apesar de que não toda ela em um mesmo sentido, é sempre interessante dar um passeio pelas notícias e tomar conhecimento das opiniões daqueles que são os “formadores de opinião”. Pelo menos as mais recentes. E tentar articular tudo isso para que tenhamos uma mínima noção da realidade. Mal ou bem, é o que me proponho aqui fazer. O que direi parecerá, a muitos, um bocado desagradável. Alguns dos que se dispuserem a ler não mais hão de querer dar-me sequer um “bom dia”, muito menos me dar atenção. Mas aceito o desafio. Essa é a minha função – a que eu própria me imponho…  

 

      Uma vez que os Governos que foram eleitos após a “abertura” e a promulgação da Constituição de 1988 agiram e agem de acordo com o que esta determina – agem, portanto, de acordo com o § único do seu art. 4º: “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”, consideremos como pano de fundo o que ocorre na Venezuela: “Maduro chegou à Assembléia Nacional vestindo a faixa presidencial…— ‘Quis entregar pessoalmente e assumir toda a responsabilidade por este projeto de lei que me dê poderes para proteger a paz frente às ameaças. Essa lei surgiu com uma necessidade de ter poderes constitucionais para que eu possa me mover’ — afirmou o presidente. … Graças à primeira Lei Habilitante, aprovada em novembro de 2013 e com duração de um ano, o presidente conseguiu, em um ano, promulgar 50 decretos que aumentaram o controle do Estado na economia e alavancaram alguns programas sociais. … — ‘Esta é uma lei anti-imperialista, destinada a preservar a paz, integridade e soberania da nação’ — defendeu o presidente”(http://oglobo.globo.com/mundo/maduro-apresenta-lei-para-ampliacao-de-poderes-na-assembleia-nacional-15559025#ixzz3U5hHPUHv)

 

      Considerando, pois, as bravatas de Maduro e as razões, sejam elas quais forem, da oposição venezuelana, e considerando o tumulto político-econômico armado em nosso País pelo atual Governo e pelas oposições, os que gritam pelo impeachment de Rousseff que opções nos oferecem? Seria possível precipitá-lo “constitucionalmente”, para que se chamem novas eleições? Miguel Reale Júnior nos diz que não: “A pena do impeachment visa a exonerar o presidente por atos praticados no decorrer do mandato. Findo o exercício da Presidência, não se pode retirar do cargo aquele cujo governo findou(http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,renuncia-ja-imp-,1646272). Evidentemente, um 2º mandato não será um 1º mandato prorrogado – é outro mandato. E a lei é a lei. Então, por que não se obter um impeachment no grito e na marra? Talvez porque isso não se chamaria impeachment, chamar-se-ia golpe de Estado – com todas as letras. Golpes de Estado podem ser muito necessários de quando em quando, para salvar o Estado de um processo de putrefação. Nada contra a priori. Mas os que são politicamente corretos não admitem sequer pensar em golpe de Estado – embora por aqui sejam vítimas incontestes de um “golpe branco” que, aliás, vem se mostrando muito bem sucedido.

 

      Há, no entanto, perguntas que podem ser feitas tanto na hipótese de que se logre um impeachment quanto na hipótese, que de tão remota será absurda, de que Rousseff renuncie tal como o jurista sugere que ela faça: “Renúncia já: a única via em busca do pacto sério em busca da reconstrução do país”. Essas perguntas são: em sendo destituída Rousseff, quem assumirá as rédeas da Política nacional? Um pacto sério em busca da reconstrução do país já foi ou está sendo costurado? Por quem? Que pacto poderá ser aquele que ainda se buscará? Seus termos só poderão ser aventados após o afastamento da atual governante? Por quê?

 

      Será possível cozinhar-se a proposta de impeachment e/ou a pressão por renúncia em fogo lento, malandramente, até que que Temer possa manter-se como sucessor de Rousseff. Ou poderemos enfrentar quatro anos de sangria até que surjam novas oportunidades aos desde sempre candidatos. “Não quero que ela saia, quero sangrar a Dilma, não quero que o Brasil seja presidido pelo Michel Temer (PMDB)”, diz-nos Aloysio Nunes Ferreira, não por acaso um ex-guerrilheiro (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1600269-fhc-diz-que-nao-adianta-tirar-dilma-e-aloysio-quer-ver-presidente-sangrar.shtml). Para tanto, é preciso que o fogo se mantenha aceso. Por quais meios que não os que mais tumultuam e mais paralisam o nosso País esse fogo se manteria? E de quem seria a sangria à sua luz e ao seu calor? Apenas Rousseff seria sangrada ou nós todos, o País inteiro, devemos sangrar em agonia, talvez até a morte, não mais nem menos que isso, enquanto os bons pactos não se concertam?

 

      Se as celebridades todas nos dizem que todos devemos ir às ruas no próximo dia 15 com as caras pintadas, agitando cartazes, a gritar pelo fim da corrupção, quem sou eu para dizer a alguém que não vá? Sou ninguém. Todos se esquecem, porém, de que já vimos esse filme. E/ou vimos alguns outros muito parecidos. No último deles, rodado em 1992, Collor de Mello, acusado de corrupção, pedia à população que fosse às ruas em sua defesa vestida nas cores da Bandeira nacional. Muitos se vestiram de preto em protesto, os estudantes liderados por Lindbergh Farias, presidente da UNE, lambuzaram seus rostos, 750 mil pessoas lotaram o Anhangabaú, todos exigiram o impeachment do presidente, que seria aprovado na Câmara. Pelo Senado, Collor foi condenado a afastar-se da Política por 8 anos; em seguida, foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal dos crimes que lhe eram imputados.

 

      Enquanto a mobilização dos “guerreiros da democracia” se prepara para que, mais uma vez, abrilhantem o espetáculo e ninguém possa cochilar, o ex-presidente e o ex-cara-pintada afagam os mesmos argumentos de defesa na apuração da corrupção generalizada apontada pela operação Lava Jato: Collor e Lindbergh vão responder a inquérito por corrupção e lavagem de dinheiro quase 23 anos após terem protagonizado, em lados opostos, o primeiro impeachment de um presidente brasileiro” (http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/ex-presidente-e-ex-cara-pintada-se-reencontram-na-lava-jato/). Lindbergh, que comandava os caras-pintadas que agitavam as ruas, ocupou uma cadeira no Senado Federal na última legislatura. Collor continua ocupando a sua desde 2006. Que há de diferente hoje para que tudo se comporte de maneira diferente? A violência explícita dos manifestantes, que é mais parecida à de 1964, talvez. Talvez. E, tanto da parte dos que são contra o Governo quanto dos que o apóiam ou em algum momento o apoiaram, rosnam-se ameaças de que serão vistos “exércitos nas ruas”.

 

      Há que considerar-se que, embora o Exército Brasileiro, o oficial, ainda se contenha nos Quartéis, em nossas ruas já há vários “exércitos”. O dos narcotraficantes, por exemplo. O de Stédile, sob as ordens de Lula, seu Comandante-em-Chefe. E outros mais, em manobras ou de prontidão. “Se até os pelegos do PT protestam contra medidas do governo Dilma na antevéspera do ato nacional contra seu desgoverno, obviamente não é sem o incentivo ou o consentimento tácito de Lula, o rei dos pelegos, que outro dia mesmo na ABI convocou a militância às ruas. Nem Dilma deve ser otária o suficiente para acreditar no contrário(http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2015/03/05/lula-e-um-estrategista-cinico/).

 

      Já o Comandante verde-oliva nos declara que não se permitirão “descalabros”. Descalabro é o que vemos todos os dias. Ou não? Um descalabro permitido. Que mais poderá ser entendido por descalabro? A sangria de Rousseff? Segundo o Comandante, a intervenção militar em 1964 justificou-se porque o século XX foi conturbado, havia a Guerra Fria, mas “hoje o Brasil é um país com instituições estruturadas, desenvolvidas, constituídas – naquela época não havia instituições no Brasil. Então hoje nós já temos um sistema de pesos e contrapesos em nosso País que permite se não com o imediatismo, o voluntarismo que é natural em todos nós que vemos o país sofrendo o que está sofrendo mas as coisas naturalmente elas vão se equilibrando.” (http://www.folhapolitica.org/2015/01/novo-comandante-do-exercito-brasileiro.html). Em suma: se entendemos as FFAA como uma Instituição do Estado, devemos entender que elas não se encontravam estruturadas, desenvolvidas, constituídas em 1964. Não estavam, não? Parece que não, assim como as demais Instituições, que só hoje estão. Temos Instituições em funcionamento tal como tínhamos em 1964. Quais delas estão mas bem estruturadas, desenvolvidas, constituídas? Estão bem estruturados, desenvolvidos, constituídos os órgãos do Executivo, do Legislativo, do Judiciário? Em que sentido? Está bem estruturado, bem desenvolvido, bem constituído o Estado brasileiro? Então, tudo bem… Em 1964, o Exército Brasileiro, encarregado de manter a integridade do Estado brasileiro, que se esgarçava e se decompunha a olhos vistos, não rosnou, não ameaçou ir às ruas – ele foi. Se hoje sair dos Quartéis – e sairá se houver qualquer ameaça de “descalabro”, seja lá o que isso signifique -, ele defenderá quem representa a nova Lei e a nova Ordem que estão como estão, defenderá as novas (?) Instituições que são o que são, e defenderá essa coisa maluca que os malucos chamam de Constituição, que nos nega direitos à soberania em benefício de uma integração política com nossos vizinhos – ou seja, defenderá o Governo reeleito e o “processo democrático consolidado”. Ninguém se iluda. Nem o provoque, nem de perto, nem de longe.

 

      Enquanto isso, também, o “movimento” dos caminhoneiros que os mantinha parados comoveu a população. Não era o único “movimento” em pauta, mas foi o que mais comoveu. Os caminhoneiros merecem apoio? Merecem. Claro que merecem. Merecem todo apoio em seu trabalho e em sua função – o apoio das Leis, o apoio do Governo. Assim como muitas outras “categorias” também o merecem. Além de que, porque não temos ferrovias, porque sucateamos e deixamos às baratas ruivas um eficiente serviço de cabotagem, porque nossas hidrovias não são confiáveis, os caminhoneiros são fundamentais, imprescindíveis ao transporte de produtos vitais, garantindo o funcionamento regular da economia e um mínimo bem-estar à Sociedade. E eles sabem disso. Todos nós sabemos. Assim é que ganharam um “apoio” absolutamente dispensável, o da “inteligência” de um “exército” que já há algum tempo se vê não só nas ruas: “Manifestantes voltaram a bloquear a BR-116, em Camaquã, no Sul, às 21h30min deste domingo. Segundo a PRF, além de dois pontos com bloqueios, houve queima de pneus e um carro foi incendiado. Além disso, há informações de que veículos foram apedrejados também na região. A PRF prepara uma ação no local. Na madrugada desta segunda-feira, houve um bloqueio na RSC-470, em Garibaldi, por pelo menos uma hora, pouco depois da 0h30min. Conforme o Grupo Rodoviário da Brigada Militar de Bento Gonçalves, os manifestantes atearam fogo em pneus na altura do quilômetro 22, no trevo da Telasul.” (http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/transito/noticia/2015/03/caminhoneiros-voltam-a-fazer-bloqueios-em-rodovias-gauchas-4709842.html).    

 

      Houve muita gente se esquecendo de considerar que a greve dos caminhoneiros, como qualquer greve de qualquer “categoria”, é um “movimento” corporativo, seja qual for a sua rota, tenha ou não tenha um sindicato por trás a coordená-lo. E, por ser corporativo e apenas corporativo o “movimento” dos caminhoneiros, “O presidente da CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos), Diumar Bueno, criticou a violência nos protestos e afirmou que as manifestações espontâneas e individuais dos caminhoneiros pelo país saiu [sic] do controle. Segundo ele, isso ocorreu muito rapidamente com adesões não muito compreendidas e bandeiras com outros interesses.” (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/03/1597537-no-sul-caminhoneiros-anunciam-tregua-ate-a-proximas-terca-feira.shtml).

 

      Esqueceu-se essa gente também de que, à Sociedade em geral, essa greve e o “apoio” que ela recebe do “exército democrático-fundamentalista” somente prometem transtornos. Incentivar esse “apoio” como o detonador de uma comoção nacional generalizada, esperar que ele levasse a uma reação generalizada contra o Governo foi um risco. Um grave risco. Primeiro, porque a greve esfriaria ao ser obtida alguma concessão – o que já poderia ser mais do que esperado e é mais do que justo. Depois, porque quem lideraria essa reação? Ninguém sabe. Parece ser ninguém. Porque é para parecer ser ninguém, é para parecer ser um movimento “espontâneo”. Mas não existem “movimentos sociais espontâneos”, nem quaisquer “movimentos espontâneos de apoio” a outros “movimentos” – todos os “movimentos” sempre terão um comando, seja ou não seja conhecido; e, sem liderança, sem coordenação e sem objetivo claro não haverá movimento social que mereça respeito – o que há é baderna, é apenas prenúncio de caos social, de convulsão social anárquica.  

 

      Riscos, nós assumimos quando os podemos bem avaliar e quando consideramos que existem chances de que nossos objetivos sejam alcançados. A cassação de Dilma Rousseff resume o nosso objetivo? Que objetivo mais chinfrim, perdoem-me! Ou o nosso objetivo será outro? Se é outro, qual é ele?

 

      Sabemos que há um tempo de semear e um tempo de colher. E que nada se semeia durante um vendaval. No entanto, sabemos também que há quem se dedique a espalhar sementes de vento sejam quais forem as condições atmosféricas. E sabemos ainda que quem semear o vento colherá, com certeza, a tempestade. Quem nos diz isso  é o saber popular, aquele que é calcado na experiência. Há quem goste muito de tempestades, assim como dos raios e dos trovões que as prenunciam – tudo isso tem, sim, sua beleza. Faz barulho, inunda, encharca, destrói, arrasa… As guerras também oferecem belos espetáculos. Muitas vezes, os efeitos de uma tempestade são como se fossem os de uma guerra. Muitas vezes, são os de uma guerra de extermínio.

 

      Não apenas o ex-presidente Lula aposta nos “movimentos”. Outro ex-presidente, o Fernando Henrique, nos dirá que a mobilização atual será válida e necessária porque “Cabe sim que as forças sociais, econômicas e políticas se organizem e dialoguem sobre como corrigir os desmandos do lulo-petismo que levaram o país à crise moral e a economia à recessão” (http://www.valor.com.br/politica/3942088/seria-salvar-o-que-nao-deve-ser-salvo-diz-fhc-sobre-pacto-com-dilma). E terá, na ponta da língua, uma resposta a dar às perguntas que ficaram em aberto acima. Repito-as: Quem assumirá as rédeas da Política? Um pacto sério em busca da reconstrução do país já foi ou está sendo costurado? Por quem? Que pacto poderá ser aquele que ainda se buscará? Seus termos só poderão ser aventados após o afastamento da atual governante? Por quê? Ora, porque “só a criação de um novo bloco, com a participação da sociedade, seria capaz de criar uma saída para a crise”, e a crise se fez porque “ninguém quis agir” quando esse nosso ex-presidente avisou ao seu sucessor e à atual presidente, ao voarem juntos na companhia de dois de seus ilustres antecessores à África do Sul para lamentar a morte de um “companheiro”, que “o modelo de presidencialismo de coalização, que na verdade era um presidencialismo de cooptação” se havia exaurido. (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1600269-fhc-diz-que-nao-adianta-tirar-dilma-e-aloysio-quer-ver-presidente-sangrar.shtml – cit). Ah, sim… então, estará tudo explicado. Depois… com a participação da Sociedade… os líderes que são líderes decidirão. E agirão. Depois de quê? Depois, ora. Afinal, eles são os líderes. Mas… o presidencialismo de coalizão não era um modelo decorrente de um pacto presumidamente sério? A Sociedade não participou desse pacto? E ele deu nisso?

 

      E as forças sociais, econômicas e políticas? Organizar-se-ão quando? “No processo”? Qual é “o processo”? O “processo” aí está. Pleno, franco, fagueiro. Ou essas forças já estão organizadas, tanto assim que estão “em movimento”? Se estão, esse “processo” é nada mais que decorrente dessa “organização”. Como elas estão organizadas? Tal como se apresentam no Congresso? Como se apresentam nas ruas? Quem dialoga ou já dialogou com quem sobre como corrigir os desmandos que levaram o país à crise moral e, por decorrência, a economia à recessão? Quem dialogará? Com quem?

 

      Venha o impeachment ou a renúncia mais cedo ou mais tarde, ou venham as eleições, quais alterações no espectro político se percebem para que o País se reja de forma mais correta ou para que se imponham projetos minimamente descomprometidos com projetos personalíssimos e subterrâneos paralelos que já conhecemos e já foram provados e comprovados e, por si mesmos, foram reprovados? Nenhuma. Que projetos são apresentados à Sociedade além desses, personalíssimos e subterrâneos, para que ela os discuta? Nenhum. Baseada em que a Sociedade poderá ter a expectativa de que se forme um Governo minimamente probo e interessado em resolver as graves questões nacionais ou um pacto sério? Em nada. O Congresso continua o mesmo. O Judiciário continua o mesmo. Os pactos continuam sendo feitos entre os mesmos. Os brasileiros continuam os mesmos. Ignorantes de tudo. Liderados pelos mesmos demagogos.

 

      Cada vez mais Lula, candidato natural do PT, cresce como “Salvador da Pátria” entre seus eleitores, desvinculando o desastre do governo de Rousseff, que ele mesmo faz questão de evidenciar, de seu governo – que literalmente flanou na marola mansa do momento internacional como um “milagre brasileiro” reeditado. O PSDB a cada dia mais se desgasta em cima do muro, sem qualquer consistência, como sempre. O PMDB, herdeiro direto do antigo MDB, é o que é, e é o que sempre foi – é preciso explicar? Lideranças menores, mas igualmente “iluminadas”, do tipo Marina Silva e outros menos badalados, recolhem-se às moitas, espreitando e esperando a oportunidade de apostar novamente na disputa dos votos das “bases” fanáticas – que incluem tanto a dita verde quanto a dita evangélica em contraposição à dita católica abrigada entre as hostes petistas. Ao mesmo tempo, a ONG supranacional pró-vandalismo “Anonymous”, que mantém íntimas relações carnais com o PSOL e outros nanicos radicais, tal como “apoiou” – ou seja, tentou desarrumar – o “movimento” dos caminhoneiros, “apoiará” todo e qualquer “movimento”  que vise a qualquer coisa e desarrumará qualquer coisa.  E é quem mais conclama a que se façam manifestações mais amplas, mais gerais e mais irrestritas. O povo, porque povo é, vai atrás do barulho que os “exércitos” presentes nas ruas produzem. É como se sempre bastassem apenas novos discursos, novas promessas e novos conchavos para que tudo dê certo… “Desta vez”, será diferente… quem sabe…?

 

      Se as celebridades todas nos dizem que todos devemos ir às ruas no próximo dia 15, eu considero isso um mau sinal. Um péssimo sinal. Mas quem sou eu para dizer a alguém que não vá? Estarei desafinando, não é mesmo? Pois, sinto muito: desafino, sim. Não consigo acompanhar o tom dessa charanga.  A começar por ela, nada disso é sério, tudo é só um circo, um circo de que todos parecem se sentir obrigados a gostar, em que todos parecem se sentir obrigados a pôr fé – e fé é fé, continua sendo fé, pouco importa o resultado da reza – e que todos parecem se sentir obrigados a manter de um jeito ou de outro, mesmo sabendo que a alegria do(s) palhaço(s) é vê-lo em chamas. Não sou, mas, se eu fosse cada um de vocês, antes de bater palmas com tanto entusiasmo sempre que alguém me incentivasse a fazer isso, pensaria muito a respeito desse circo de horrores em que vivemos hoje encarcerados, em que a hipocrisia, a má-fé e a incompetência não são apenas uma demonstração de grotescos trapezistas nos ares ou de prestidigitadores de 5ª categoria no picadeiro – são a lona, o chão, a arquibancada, são as cordas, as correntes, as grades.

 

       Tenho, sim, a estúpida mania de tentar derrubar expectativas “otimistas” que me pareçam ser nada menos que danosas, irresponsáveis, inconseqüentes; ou mesmo as aparentemente inócuas, mas que são exatamente as que mais reforçam o processo de consolidação de nossos erros acumulados. Por isso quase sempre desafino. E talvez só desafine tanto assim porque ainda creia – e fé é fé – em que, algum dia, alguns de nós, de bom juízo, ainda hão de predispor-se a pensar no Brasil com alguma seriedade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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