O Brasil está dividido. O resultado das eleições nos demonstra isso com todos os números. E nada mais que isso esse resultado nos demonstra.
Mas o Brasil não foi dividido pelo PT. Muito menos o PT seria capaz de nos dividir para nos vencer. Nem essa capacidade, que exigiria alguma sofisticação de seus dirigentes, o PT possui. O PT é nada – é o ódio irracional de Chauí à classe média, é o dialeto chulo de Lula, os números confusos de Rousseff, as lágrimas fáceis e o gorjeio desafinado de Suplicy, a “estratégia” às avessas de Garcia – é o refúgio dos medíocres, e só venceu as eleições presidenciais pela terceira vez consecutiva porque o Brasil já estava dividido. E porque os que se colocaram contra o PT, contra quem compõe ou contra quem apóia o PT, nada representam – são apenas um monte de gente que, pelas mais absolutamente diferentes razões, inclusive as mais antagônicas, apostou no candidato de outro Partido.
O Brasil continuará dividido, com PT ou sem PT. Porque um discurso de posse, fosse de quem fosse, por mais conciliatório que nos parecesse ser, não seria suficiente para juntar seus cacos e colá-los uns aos outros. Porque o que dividiu a nossa gente, permitindo fosse possível dar continuidade ao nada que o PT representa, foi a política eleitoreira, pouco séria, que em nosso País se cultiva. Que nós cultivamos. Há décadas. Foi o culto à performance das “celebridades”, a exaltação de falsos mitos libertários, a reverência aos covardes como fossem heróis, a escola troncha que adotamos, a autocomiseração vadia, a indiferença e o desprezo a nós mesmos que nos permite acreditar em histórias muito mal contadas porque nos soam mais “universais” que a verdadeira. Foi a irresponsabilidade com que tratamos de nossos assuntos, que só nossos são.
É preciso que compreendamos que, estando dessa forma dividido o Brasil, não foi Aécio o vencido, não foi vencido o PSDB – o Brasil foi o derrotado. Mais uma vez. E que quem venceu não foi o PT, nem foi a Rousseff – venceram a politicagem, a ignomínia, a malandragem. Como já era de se prever que venceriam. Esses “personagens” que vivem entre nós venceram uma eleição que foi disputada com discursos semelhantes, com posturas semelhantes, que nada de novo trouxeram ao nosso povo dividido.
O Brasil está dividido, sim, mas não está morto. Se o velarmos, de estúpidos, como se morto ele estivesse, desperdiçaremos os quatro anos que temos pela frente fazendo nada, em vez de reanimá-lo. Temos quatro gordos anos para pensar a Política com seriedade, sem bairrismos, sem prepotência oca, sem ufanismos tísicos, sem pruridos teóricos, sem fricotes retóricos. Com os pés no nosso chão firme. Com o olhar voltado ao nosso horizonte. Pensando em nós como um todo, sem o que nada seremos.
E assim poderemos impedir que seja definitivo o estrago que o PT, mais uma vez no Executivo, mais ainda nos fará. Que talvez tão grande não fizesse o PSDB, mas isso não tínhamos e nem teremos a menor chance de saber.
Caso não tivermos consciência dos erros que cometemos diariamente contra nós mesmos, veremos, em 2018, a repetição do mesmo resultado que ontem nos foi oferecido. E mais outra e outra vez esse resultado será o mesmo, até que o Brasil, mesmo que seu coração ainda esteja pulsando, possa ser retirado do velório em que hoje se encontra e seja enterrado definitivamente. Quem foi exaltado nas ruas, ontem, na festa da vitória daquela que despiu o vermelho e vestia o “branco da paz” senão um Lula também fantasiado de babalorixá?
Fazer Política não é se fazer bonito para sair bem na foto tentando agradar a gregos e troianos. Fazer Política não é recitar versos às vésperas de eleições pedindo ou prometendo “mudanças” – que “mudanças”? Fazer Política não é bater panelas nas ruas, nem é quebrar vidraças ou incendiar ônibus e gritar histericamente o nome da tal Ética. Fazer Política não é procurar os malfeitos dos adversários para denunciá-los e escandalizar as almas sensíveis. Fazer Política não é acenar com fantasias salvacionistas, com promessas messiânicas, com a “essência democrática” que haveria em reformas referendadas por uma maioria que de nada tem noção.
Fazer Política é pensar na Política com muita seriedade. Permanentemente. É querer pensar em fazer a boa Política. É situar-se no Brasil como um bom brasileiro e situar o Brasil no mundo como o nosso Estado, o dos brasileiros. É saber que ter poder é necessário, é querer ter poder. Fazer Política é esclarecer, não confundir. É impedir que inimigos ocupem o vácuo que permitimos seja criado por não sabermos quem somos ou não respeitarmos o que temos. Ou por não acreditarmos no que vemos. É acreditar que existem inimigos, sim. É definir os inimigos como inimigos. É não ser tolerante, em nenhuma hipótese, com os que reconhecemos como nossos inimigos. É levá-los a sério. É levar a sério a necessidade de que armemos nossas defesas. É não só querer curar o mal que nos possa ter sido feito como também prevenir e evitar que o mal se faça. É reagir com dignidade ao discurso conciliatório do nada com o coisa nenhuma, é demonstrar asco inequívoco ao tapinha nas costas que selaria o compromisso de aceitarmos que se faça qualquer coisa de nós em proveito de curtos e estreitos interesses. Fazer Política é fazer que o Brasil de fato nos represente, não uma região, não uma província, não um Partido, não um indivíduo que adote, da boca para fora, um discurso ensaiado de teor muito semelhante ao que caracterizou o discurso dos adversários, tentando nos deixar ainda mais perplexos e mais mansos.
O PT não nos representa. Isso é uma verdade escandalosamente verdadeira. Nem nos representa o PT, nem nos representa a coligação de Partidos que foi vitoriosa nas eleições graças às “baixarias” que vimos durante a campanha eleitoral e tanto sensibilizaram os menos informados. Mas bem pior que o PT ter ganho as eleições é alguns voltarem a afirmar que têm vergonha de ser brasileiros. Nada mais adequado às pretensões de nossos inimigos que esse tipo de declaração, que até poderia ser interpretada como um rompante superficial, resultante de uma esporádica decepção, uma reação infantil a uma derrota, mas é do mais profundo das entranhas que ela é extraída. E foi exatamente com esse sentimento que esses alguns, muitos, foram às urnas a depositar suas apostas.
Fazer Política é reagir com altivez a uma adversidade, é encontrar na derrota o estímulo para mais se preparar para a próxima batalha, é sanar erros, é traçar planos.
Organizem-se, pois, as bancadas de fato representativas do interesse nacional no Congresso, organizem-se os Juristas que conheçam a boa doutrina e tenham algum discernimento do que seja um sistema Judiciário, organizem-se os que têm por função combater nas fronteiras os nossos inimigos, organizem-se os cidadãos que têm alguma consciência de como o mundo se comporta e de que nós não poderemos ser a exceção sem que sejamos esmagados. Organizem-se suas idéias, seus atos, suas expectativas. Para que, além de se mostrar tão dividido, o País não se rompa definitivamente, não se fragmente em múltiplos pedaços dele mesmo que serão, todos eles, representativos do nada que tanto o PT quanto os que estão contra o PT hoje representam.
Se não representássemos o nada, quem se atreveria a nos dizer que Política poderá ser concebida como nenhum embate permanente de idéias e ideais? Quem nos sugeriria que um resultado como o que tivemos ontem pudesse ser o primeiro passo para uma conciliação de todos com tudo e qualquer coisa? Que pacificação nos ofereceria que venceu as eleições da forma como venceu, governando da forma como governou?
Política é coisa séria. Não é festa, não é futebol, não é brinquedo. Política é Política, e nada mais. O que não for Política, será qualquer coisa, mas Política não será. No dia em que compreendermos isso, estaremos no bom caminho. E estaremos unidos. Seremos um poder de fato contra os nossos inimigos, entre os quais o pior é a inércia intelectual. Venceremos seja quem ou o que for que estiver contra nós. E teremos por que nos orgulhar de nós mesmos.
Até lá, não. Até lá, nada.
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