QUADROS DE UMA EXPOSIÇÃO : suíte composta por Modest Mussorgsky em 1874 na cidade de São Petersburgo, depois Leningrado, depois Petrogrado, depois Petersburgo, hoje Peter para os íntimos, às margens do rio Neva, na região do Mar Báltico. Inspirada nas pinturas de Viktor Hartmann, reúne dez movimentos que sugerem o folclore russo e são encadeados por um tema comum – “Promenade” (passeio). O piano soa austero, em contraste com o estilo radiante em voga na época.
QUADROS DE UMA EXPOSIÇÃO… 140 anos depois : suíte inspirada em instantâneos do cotidiano. Composta em Campinhos de Mato Grosso – na Trilha dos Goiases do Planalto de Piratininga -, depois Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso, depois Vila de São Carlos, hoje Campinas só. Em virtude de acanhadas motivação, criatividade e habilidade, reúne apenas oito movimentos que mantêm um tom nublado, fosco e empoeirado em contraste com o vibrante estilo da constante e sempre atual temporada aberta à caça de bruxas e de votos. Sugerindo o folclore brasileiro, eles são encadeados sob tema semelhante (ou não, depende de interpretação – o nome é o mesmo) ao que encadeia sua homônima precedente: “Promenade” (contradança em que os pares trocam de lugar e retornam às posições anteriores a cada oito compassos). O berimbau, que deve soar tão austero quanto um berimbau pudesse alguma vez ter soado, foi o recurso sonoro utilizado. O piano até foi procurado, mas não mais pôde ser encontrado – assim como os demais instrumentos todos, já havia sido levado embora, mas ninguém viu e ninguém sabe como. Recomenda o compositor que ninguém se sinta tentado a apreciar todos os quadros de uma sentada só, uma vez que ele próprio reconhece que a exposição é tediosa e fatigante.
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1º movimento – AOS VENCEDORES, A QUIRERA.
No Grande Prêmio Planalto Central/2014, a ser disputado em Outubro próximo, concorrerão exemplares pertencentes a haras muito modernos, muito bem instalados em território nacional. Nenhum deles puro sangue, nenhum deles campeão, nenhum deles de bom porte, mas alguns, pelo aspecto curioso, já apresentados a platéias internacionais aficionadas do turfe, que muito os aplaudiram. Desde já, nessa longa e preguiçosa tarde desperdiçada no jóquei clube nacional, prepara-se o páreo. Comentaristas especializados fazem seus prognósticos que jornais e TVs divulgam entusiasmados. As pules são de valor bastante elevado, estão reservadas a muito poucos, e as multidões apenas acompanharão com o olhar os que cruzarem a faixa final.
Enquanto ainda não estão bufando e raspando com as patas o chão dos boxes esperando ser dada a largada, os competidores desfilam a passo, junto ao alambrado da pista, exibindo suas crinas e suas caudas bem escovadas, com as que procuram seduzir os que os observam. Impacientes, são orientados e controlados por rédeas curtas nas mãos de jóqueis-marqueteiros nem sempre muito hábeis – de vez em quando, vê-se um tropeção, de vez em quando, um coice. Entre os vários pangarés que fazem o mesmo, relincham alguns muares, uma ágil zebra sprinter, uma égua fundista apontada como a favorita e um garanhão milheiro, cujo pedigree caipira supõe atributos de campeão.
Como as apostas ainda não estão fechadas, os palpites dançam ao sabor dos ventos. De repente, acendem-se todos os holofotes. E corre de boca em boca o anúncio de uma “barbada”. Um burburinho abafado acompanha a corrida aos bookmakers. A “barbada” é a zebra, nem branca nem preta, que vai perdendo as listras à medida que as apostas se avolumam, e “deve” ganhar, mesmo que correndo a trote e por fora. Isso, porque sob suas patas ágeis abriria uma suposta 3ª via, nem de grama, nem de areia, nem pesada, nem leve, que ninguém sabe exatamente definir de onde até onde iria ou que diabos poderia significar. Corre um boato, e alguns apostadores o têm como verdade, de que certa escuderia que com ela vem flertando poderá aprontar um forfait. Não surpreende, mas faz que o número de apostas nas patas do milheiro despenque, embora o de placês aumente.
Como de hábito, disputado em sentido anti-horário, será um páreo estranho, esse, com concorrentes pertencentes a categorias tão díspares embora sejam todos de uma mesma família bio-ideológica. Será um páreo muito estranho e complicado. Mas, seja quem for o vencedor, o certo é que ele voltará às baias de seu proprietário tão logo termine a corrida, para um bom banho e um balde cheio de quirera de milho que lhe reporão o frescor e a energia. O que sobrar dessa quirera será levado ao guichê central e rateado entre os que apresentarem as pules premiadas. Porque, inteiro, sabemos que nada mais resta. E as multidões? As multidões tirarão um cochilo enquanto esperam pelo próximo páreo.
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2º movimento – FREUD E AS CATEDRAIS
“Getúlio nunca citou o brigadeiro Eduardo Gomes nem foi por ele citado. O mesmo se passara entre o general Dutra e o brigadeiro. O general Juarez Távora fez campanha até raivosa, e Juscelino se ocupou dos seus planos para fazer ‘50 anos em 5’, sem referência direta entre eles. Jânio fez campanha de fortes insinuações contra tudo o que lembrasse o governo Juscelino, representado na candidatura do general Lott, mas nunca o fez de modo explícito e nominal. Ditadura militar por 21 anos é, na cultura política, o mesmo que a demolição acelerada de uma edificação construída durante séculos, como as velhas catedrais.”
www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2014/09/1515753-uma-campanha-indigna.shtml
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No mundo todo, há tempos que Freud vem explicando tudo. No mundo todo. Se explicou ou não explicou de fato, não importa – explicaria. Menos no Brasil. No Brasil, Freud nada explicará. O que explicará tudo e mais um pouco no Brasil de hoje, de ontem, de sempre é a “ditadura militar”. Essa “ditadura militar” poderá explicar inclusive tudo o que possa ter ocorrido antes mesmo de que fosse introduzida pelos donos das nossas verdades como característica de um período de nossa História recente.
É trágico, mas não deixa de ser divertido, abrir os jornais do País esperando encontrar as notícias mais atuais e comentários a respeito delas, e vê-los pesados, repletos de dramatizações intempestivas e considerações lunáticas a respeito do que teria ocorrido há 30 anos… caso tivesse ocorrido. A tal da “ditadura militar” explicará inclusive a absoluta falta de projetos, propostas e programas dos Partidos políticos todos, o decorrente clima de salão de barbeiro de subúrbio que impera nas campanhas dos candidatos, e, talvez o mais importante, a descompostura, inapropriada ao cargo, que vem sendo exibida por pretendentes à Presidência. Por mais sofisticada que pareça a alguns, se essa explicação tão simplória não decorre de ignorância, só pode decorrer de muita má-fé e muita falta de respeito com o leitor, com o eleitor, com os cidadãos brasileiros. E ela é tão lugar-comum que chega a nos provocar urticária e dor no estômago, tamanha é a consciência que nos assalta de nossa absoluta impotência perante tanta cretinice explícita.
Venhamos e convenhamos: ainda que o período dos Presidentes militares, apelidado pelos poetas, seresteiros e namorados de “ditadura militar”, pudesse explicar alguma coisa que hoje ocorra, justificar, ele não justificaria, exceto os objetivos perseguidos à época que, vê-se, não foram alcançados; além de que, uma vez que combateram idéias, e apenas as idéias que hoje se demonstram na plenitude de sua sordidez, os governos representados por indivíduos que tinham nomes, que passaram pela Presidência entre 1964 e 1985, que não eram “um bando de generais” animando suas “tropas revolucionárias” em uma “republicola” sul-americana qualquer, não explicariam, em absoluto, essa fixação atual em elevar personalidades a ícones do bem e do mal e em exaltá-las ou combatê-las por aquilo que somente elas mesmas pudessem ser e representar. É interessante nos lembrar de que, naqueles 21 anos, foram cinco nomes, ou oito, contando com os do Governo da Junta que assumiu em 1969, em contraste com os cinco nomes, ou seis, contando com o de um vice que substituiu um impichado, que as tão propaladas e celebradas liberdade e democracia nos permitiram experimentar nos últimos 30 anos. O único fator que unia as idéias dos cinco primeiros era consciência de que o Brasil deveria ser colocado acima de tudo.
Os que insistem em continuar combatendo, até hoje, aqueles governos dos Presidentes militares não exibem estatura intelectual e moral sequer para nominá-los. Insistem em chamá-los de “ditadura militar” na exclusiva intenção de se locupletar, se não financeiramente, pelo menos em projeção. Autopromovidos a paladinos das liberdades, apenas tentam desesperadamente reduzir um doloroso embate político, levado ao extremo, que resultou em baixas sofridas em ambas as frentes, a um espetáculo movido pela doce índole emocional de alguns e por deficiências neurológicas de outros indivíduos diretamente envolvidos. Não permitem que o País supere o período porque não lhes convém largar o osso. O que só Freud explicará. Ou nem mesmo Freud explicaria.
Essa tendência a promover campanhas indignas é, pois, tão nova quanto as novas catedrais que são erguidas com areia da praia e quanto a pintura das paredes de algumas outras que, dinamitadas impiedosamente, puderam ter seus alicerces trincados de forma comprometedora desde bem antes de 1988.
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3º movimento – A IRRACIONALIDADE DO ILÓGICO
“A candidata do PSB diz que é vítima de uma ‘indústria de boatos e mentiras’, que tem o objetivo de ‘fazer terrorismo’ com os eleitores. … Emocionada, disse ser quase impossível acreditar que o petista esteja fazendo isso … ‘Quero fazer coisas em favor do que lá atrás aprendi, inclusive com ele [Lula], que a gente não deveria se render à mentira, ao preconceito, e que a esperança iria vencer o medo. Continuo acreditando nessas mesmas coisas’, afirmou. … Desde que subiu nas pesquisas, Marina está sob ataques do PT, partido ao qual foi filiada de 1985 a 2009. … Aliados afirmam que o petista ainda se constrange ao criticar a ex-companheira de partido mas ponderam que a disputa eleitoral é mesmo ‘bastante cruel’. “
www1.folha.uol.com.br/poder/2014/09/1515516-marina-chora-ao-falar-de-lula-e-se-diz-injusticada.shtml
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“E lá vem Dilma e sua propaganda deformando a cor, a cara, a imagem, a história e as intenções de Marina, adulterada como representante de banqueiros e um perigo para o prato de comida dos pobres. E lá vem João Pedro Stedile, do MST, ameaçando invadir tudo, todo dia, se ela vencer. É a implosão da Marina real e a construção da Marina ‘de direita’. Será que os eleitores brasileiros somos tão imbecis, caímos como patinhos em qualquer lorota? … Se Lula saiu de um casebre do interior de Pernambuco, Marina emergiu de um seringal do Acre. Se Lula fez curso de torneiro mecânico, Marina teve de lavar chão para formar-se em história. Se Lula se tornou o grande líder sindical no Sul Maravilha, Marina impõe-se na órbita do ambientalista Chico Mendes.”
www1.folha.uol.com.br/colunas/elianecantanhede/2014/09/1516543-me-engana-que-eu-gosto.shtml
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“Dilma está dizendo que a brutalidade é mesmo da natureza do jogo, avaliação que, em larga medida, remete a personagem de agora àquela militante do passado, quando grupos terroristas se organizaram contra a ditadura militar. Ou por outra: não havia, de fato, “coitadinhos” naquele embate. … Dilma pede licença para matar. Nem que seja uma reputação.”
veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/dilma-pede-licenca-para-matar-ou-petista-promete-mais-quatro-anos-iguais-aos-ultimos-quatro-se-reeleita-ou-destruir-para-conquistar-conquistar-para-destruir/
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Conforme sempre digo, e também sempre repito, não porque sinta qualquer prazer mórbido nisso, Osmarina da Silva, a Beata do Xapuri, alçou vôo carregando no bico as intenções de voto de muita gente graças às asas que a mídia lhe emprestou. Ela será “a melhor” candidata a ser levada a administrar o País porque será “a menos pior” – este é o mote da propaganda. A “mais pior” seria "a outra"…
As razões que levam a que seja considerada “a menos pior” pouco importam. Serão porque a ex-seringueira é ainda mais líder e mais santa do que poderia ser líder e santo o ex-torneiro mecânico que a apadrinhou; porque, por tudo isso e mais um pouco, recebeu prêmios da ONU, da ONG internacional WWF, da Sophie Foundation, da Fundação Príncipe Albert II de Mônaco; porque foi citada em The New York Times como "ícone do movimento ambientalista"; porque a Revista Época a incluiu na lista das 100 personalidades mais influentes do Brasil e a BBC Brasil na lista dos 10 brasileiros que foram notícias no mundo; porque cozinhou em forno e fogão, costurou, bordou, lavou, passou a ferro e a fogo; porque, como afirma, vem sendo martirizada pelo PT ou porque seja de fato uma coitadinha. Até mesmo um Reinaldo Azevedo bastante esperto parece que já se deixou cair nesse conto do vigário.
Em suma, Osmarina “deve” ganhar a Presidência porque “deve”. E as razões pouco importam porque não nos devem importar. Cuidemos, pois, para que se mantenha a reputação de Osmarina. E a elejamos caso queiramos ver mais um “coitadinho” no poder.
A “lógica” que se encontra em escolher ou incitar alguém a escolher o/a “menos pior” candidato/a à Presidência não será a melhor lógica – mas não será, tampouco, a pior ou a “menos pior”. Porque lógica é a expressão da racionalidade e não há qualquer racionalidade em uma escolha desse tipo. Oferecer ao “menos pior” a administração de nosso País, de olhos fechados, de mão beijada, sem acenar com qualquer objetivo estratégico, não é qualquer tática, não é perder uma batalha para ganhar qualquer guerra – é apenas render-se ao inimigo por inércia ou por absoluto vazio mental, é o que pode ser considerado como o mais absolutamente antilógico e contrário à própria natureza da Política (e à da guerra, por suposto).
Então, por que insistimos nisso, eleição após eleição? Bem, muitos caminhos e muitas razões são os que levam não só a Roma como também ao Planalto Central; mas me arriscaria a dizer que, no caso, uma dessas razões talvez seja a de que, nas Escolas, já nos ensinavam que “deveríamos” escolher entre “o certo” e “o errado” e, para facilitar a escolha, as questões passaram a ser apresentadas com respostas prontas. Sempre haveria aquela que seria “a certa” entre algumas muito erradas, mesmo que, bem ponderados os termos, ela fosse apenas a menos errada. E bastava marcar um X na menos errada que seria possível “acertar”, mesmo que por meio da eliminação das respostas que nos parecessem ainda mais erradas. O que tornava qualquer prova dificilíssima para qualquer um que se atrevesse a pensar um pouco além do que fosse o permitido. Muito provavelmente não só nas Escolas, mas também em casa isso nos seria exigido, pois também nas Escolas se educaram os que nos educaram em casa. E, quanto mais errado o mundo nos parecesse, mais “certo” nos parecia escolher o que fosse menos errado.
Vai daí que por aí fomos, em nosso alegre desprezo por tudo o que pudesse ser minimamente lógico e racional, e chegamos hoje a um ponto em que podemos ouvir que a “questão do clima é complicada porque o mundo é redondo”, ou que “quatro para treze dá sete”, ou que situação em tal ou qual região do mundo exigiria “uma releitura da história repaginada… a nível de continente globalizado” ou que uma das “qualidades” do Brasil é ter “220 povos que falam 180 línguas”… que já não nos espantamos. Porque desistimos de raciocinar. Se podemos escolher, raciocinar não nos fará falta alguma.
É assim como acontece com os filmes que nos são exibidos. Se nossa única intenção for gastar o tempo que temos no cinema comendo pipocas, sempre haverá um filme “menos pior” que mereça a nossa escolha, ainda que, sendo “mais” ou sendo “menos pior”, o que pior será apenas o pior. E vai daí que, permanentemente escolhendo o “menos pior”, esforçando-nos em argumentos mirabolantes para justificar a nós mesmos que o ilógico será lógico – o que, pela lógica, ainda que mínima, será absolutamente injustificável -, não exigindo racionalidade alguma das escolhas que fazemos, pensando apenas em evitar o “mais pior”, o que exige, de fato, alguma arte, o resultado foi que nos habituamos a considerar aceitáveis os comportamentos ilógicos e irracionais. E corremos o risco de nos aprimorar, todos nós, cada vez mais, cada vez mais rapidamente, em demonstrar dessa equação. Porque, eleição após eleição, o “menos pior” se mostra, progressivamente, cada vez menos diferente e cada vez mais próximo do pior.
É que a vida deve imitar a arte?
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4º movimento – A MÁQUINA, A MATÉRIA E A FORMA
Um vídeo me chega à tela exibindo uma máquina de esmagar e triturar material descartado, tudo e qualquer coisa. E me chega com o seguinte comentário – essa máquina seria “a solução, para o fim dos deputados, senadores, vereadores e a turma do STF !!!” Seria, portanto, “a solução” que poderia ser dada aos candidatos à Presidência da República…
Para alguns, esmagar e triturar os poderosos representantes de nossos Poderes poderia ser o fim adequado a ser dado a todos eles, “a solução”, literalmente, daquilo que alguns outros, que não sabemos quem são, nos ordenam, desde onde ninguém sabe, que consideremos inútil ou pernicioso. Mas, atenção: toda essa matéria de que Deputados, Senadores, Vereadores, Juízes, Prefeitos, Governadores, Presidentes são feitos, por mais sangue e gordura que espirre quando triturada e esmagada, perderá a forma, mas poderá ser, toda ela, imediatamente reciclada. Com esse mesmo lixo tóxico será fabricado, então, o que consideraremos muito útil, que poderemos considerar muito bonito, que não haveremos de querer destruir e até poderemos querer levar para casa… ou enviar ao Planalto Central.
Forma é forma, matéria é matéria. Enquanto não apenas a matéria com que lidamos no Congresso, nos Tribunais e no Executivo, mas a matéria toda com que precisamos contar para que alcancemos a nossa tão desejada "redenção" for porosa, maleável, absorvente, tolerante, poluente, e aceitar manter a mesma presumida utilidade, ela não se prestará a moldar coisa sólida alguma que preste. E nada de novo ou luminoso surgirá em nosso horizonte enquanto o entupirmos de modelos que nos sejam sugeridos desde fora, supostas 1ªs, 2ªs, 3ªs … 10ª vias inclusive, isso pouco importa. Esses modelos mágicos que tanto nos entusiasmam adaptam-se, na prática, por sua natureza inconsistente, ao que há de pior nos velhos modelos, mantidos, na teoria, por doutos senhores que administram casas de farinha onde se fabrica a nossa mentalidade atual. Têm como resultado que desrespeitemos nossa História, que nos desprezemos, que nos estapeemos mútua e constantemente, que definhemos, que nos fragmentemos, que não definamos nossas próprias ambições e não façamos nossas próprias escolhas – ambições e escolhas que, se corretas forem, ou seja, se nos forem adequadas, necessariamente não estarão de acordo com as ambições e as escolhas de ninguém mais. Mesmo porque nada existe de novo nas "novidades" sacadas do bolso da algibeira de quem quer que seja que rumine seus próprios problemas seculares sem conseguir resolvê-los.
Será bastante destruir as formas que imaginamos ser o fator de nossos incômodos e nossos aborrecimentos, de nossos problemas e nossos impedimentos? Não já nos basta termos destruído em nossa inteligência e em nossa consciência a essência da finalidade primordial de todas elas, o para que e o porquê de terem sido criadas, muitas vezes sem ao menos experimentá-las em sua inteireza ou sem tentar esgotá-las? Ou, como “justiceiros” ou assassinos de aluguel, só queremos exterminar alguns indivíduos? Se somos nós mesmos quem elege os Deputados, os Senadores, os Vereadores, os Presidentes, se é nosso Estado quem referenda a “turma” do STF, quem nos garante que nós mesmos já não mergulhamos de cabeça, faz tempo, naquela máquina de triturar e esmagar tudo e qualquer coisa?
Qual seria a moral (ou a “ética”, como alguns preferem), no frigir dos ovos, dessa história toda… e de toda a História – a nossa, inclusive, que é a que nos deveria importar de fato? Democracias, ditaduras, violências, liberdades… Quando nos foi permitido querer compreender que este País é nosso e só nosso deve ser, que ele é diferente, que somente de nós depende colocar essa diferença em nosso benefício? Quando nos foi permitido tentar construir algo sólido e sadio para a nossa coletividade que só nossa é, só nossa deve ser, que somente de nós depende, na qual nós mesmos nos incluímos e ninguém mais? Quando isso nos será permitido?
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5º movimento – MAIS DO MESMO
“Uma pergunta bem formulada é aquela em que o professor usa somente as palavras necessárias para expor a questão, vai direto ao assunto, pergunta uma coisa de cada vez, é objetiva, leva o aluno a pensar, a buscar novos caminhos … O uso de exemplos serve para iniciar concretamente um estudo, complementar palestras ou exposições orais, dar oportunidade aos alunos de rever conhecimentos e compará-los em situações reais e treiná-los para aplicar corretamente o que lhes foi explicado. … Sugestões verbalmente conduzidas, materiais visuais, auditivos, ideias emergentes do treinando, por exemplo, constituem eventos e objetos estímulos, e seu interjogo se denomina situação-estímulo. … Ensinar é, fundamentalmente, controlar a situação-estímulo.”
www.webartigos.com/artigos/habilidades-do-professor-em-sala-de-aula/20767/
É de arrepiar o couro do mais bem ou mal intencionado de nós a 10ª questão que – a pretexto de provocar uma reflexão a respeito do sofrimento “de um determinado povo” que, no Oriente Médio, encontra-se em permanente conflito com outro povo que ali teria chegado “invadindo, tomando terras, assassinando…” -, ao que nos informam, constava, entre outras tantas de teor nem sequer suspeitado, de uma prova de Geografia que deveria avaliar o discernimento, o saber e a capacidade de raciocínio dos alunos que hoje freqüentam a oitava série do Colégio Andrews (que, aliás, eu mesma freqüentei em tempos menos áridos, os meus, os dele e os de nosso País…). É importante que nos lembremos de que, em média, esses alunos terão uns 13 anos de idade.
Por ser um bom professor, esse, de Geografia, imprime às suas aulas motivação, atualidade,dinamismo (muito explícitos no desenho que acompanha a questão da prova…) e a “interdisciplinaridade” recomendada por especialistas de renomada reputação internacional. E faz uma pergunta a respeito da História, exigindo que a turma “explique o que é sionismo e a diáspora”, o que deveria fornecer subsídios para que respondessem aos demais itens da questão, que seriam: “que povo mais sofre os impactos das ações de Israel?”; “qual a importância do território no conflito entre judeus e este povo que mais sofre os impactos acima?” e, literalmente, “quem será pior? Judeus ou Nazistas?”
Tempo… … … Muito bem, soou a “sineta” da hora do recreio, tempo esgotado.Das duas, uma: ou os alunos estavam muito seguros de qual resposta deveria ser dada à última das questões mencionadas (ter uma opinião formada é outra coisa) por ser a “mais politicamente correta” segundo as convicções do professor, aquele que é uma autoridade e permitirá ou não que “avancem”, que “progridam” na vida etc. etc… ou… uni-du-ni-tê… o escolhido foi…
Por quê? Pois bem, vamos lá. Conforme está posto na prova dada aos alunos, sendo “o pior” os nazistas, “o melhor” serão os judeus. Eles todos, pouco importa quem sejam, onde estejam, que desejem ou que comportamento tenham – seja o que for, seja como for, tudo será “o melhor”. E, se os judeus são “o melhor”, só mesmo os nazistas, que serão “o pior”, poderiam imaginar usar de violência contra algum judeu. Quem usar, será nazista.
Bem, que cada judeu fosse igual a cada judeu pensavam os nazistas. Judeus seriam judeus, ora, e ponto final. Não havendo os mais e os menos judeus, não haveria os mais e os menos inteligentes, os mais e os menos capazes, os mais e os menos corretos, os mais e os menos agressivos, os mais e os menos refinados entre os judeus. Porque não. Ser judeu seria pertencer a determinada “categoria”, implicaria possuir um caráter determinado, impresso pela genética, ter um comportamento determinado, impresso por uma cultura e/ou uma religião específicas, tendências específicas absolutamente diferenciadas daquelas que pudessem ser encontradas nos demais indivíduos da espécie humana. No entender dos nazistas, “os judeus”, por serem judeus, não mais que por isso, atrapalhavam o progresso e a felicidade do povo ariano. Eram “o mal”. E, por isso, deveriam ser confinados, exterminados… Inclusive os que já nem se lembravam de que eram judeus, que acreditavam que fossem alemães, franceses…
Mas, se os alunos nunca ouviram falar em Nazismo ou, já tendo ouvido, apenas puderem situá-lo no tempo e no espaço ou nem mesmo isso, se souberem que Israel vem bombardeando violentamente a faixa de Gaza, se não conhecerem o poder dos mísseis que são lançados nem souberem dos túneis abertos pelo Hamas para provocar o terror em Israel, se não encontrarem razão alguma para que Israel hostilize qualquer um dos seus vizinhos próximos ou distantes e se o sofrimento evidente do povo palestino os sensibilizar profundamente como sensibilizaria qualquer alma presumivelmente piedosa assim como sensibiliza as que estão em nosso Governo… a escolha do que poderia ser “o pior” poderá recair sobre os judeus. “O melhor”, então, será quem? De acordo com o enunciado da questão, se não são os judeus, seriam os palestinos, os muçulmanos, os cristãos, os moicanos, os esquimós, os bolivarianos, os vegetarianos, os corintianos? Não, “o melhor” será um nazista…
E, como não se tratava de uma prova de múltipla escolha, mas sim de uma questão cuja resposta exigiria uma “reflexão”… e como à questão se acrescenta o desenho de dois soldados, ambos com os símbolos de seus Estados no uniforme, ninguém mais, ameaçando, ambos, indefesas crianças, tendo ao fundo alguns escombros… essa resposta poderia ser “são todos iguais – os nazistas, os judeus… tanto faz um como tanto fez qualquer outro, todos eles são a desgraça da Humanidade porque todas as pessoas do mundo devem ser tolerantes e solidárias com todas as pessoas do mundo, porque o Estado é autoritário, é opressor e é terrorista, porque as fronteiras deverão ser eliminadas, porque os exércitos devem ser destroçados, porque as leis são truculentas e impedem as liberdades, porque os homens deverão viver na harmonia característica de sua própria essência primordial blablablá-blablablá… e quem não for tolerante e solidário com o mundo todo é uma ameaça às pacíficas culturas ancestrais, é escravocrata, é invasor de terras indígenas, é um machista, é um porco chauvinista e merece ser condenado, estripado, morto e enterrado”.
Os pais dos alunos do Colégio Andrews, cuja Direção afirma “que este episódio isolado não corresponde nem reflete o sentido pretendido… em seu Projeto Educativo, sempre voltado para a paz e o bom convívio entre os povos”, não foram tolerantes nem solidários com o professor de Geografia. Estariam eles certos? Estariam errados? O Colégio o demitiu. (oglobo.globo.com/sociedade/educacao/colegio-andrews-demite-professor-de-geografia-por-questao-que-compara-judeus-nazistas-13906531)
Convenhamos: o preconceito é uma estupidez, em qualquer de suas manifestações, mas um mundo sem preconceitos é uma utopia. Porque ninguém consegue exterminar a estupidez da face da terra. Em geral, o que se consegue na “luta contra o preconceito” é apenas substituir uma idéia preconceituosa por outra, tão preconceituosa quanto a anterior e talvez mais estúpida, mais cruel, discriminatória, segregativa. Isso quem nos diz é a nossa própria experiência decorrente de uma legislação supostamente anti-preconceito.
Então, o que apenas nos sobra é pensar no seguinte: com quem, caso uma propaganda perversa qualquer não desvie o nosso raciocínio, nós, os brasileiros todos, os que nascemos brasileiros e os de qualquer origem que optamos por ser brasileiros, os que temos o direito de querer nos sentir brasileiros, os que temos nossa história construída entre as fronteiras desse território brasileiro, devemos ser tolerantes e solidários quando o que estiver em jogo for a Política nacional, a interna e a externa, ou seja, quando está em risco não apenas a nossa soberania como a nossa própria preservação e nossa própria sobrevivência? A quem devemos ceder nossa inteligência e nossos recursos para que todos os que precisam (?) se convencer disso se convençam de que nos dedicamos empenhadamente a nos manter sempre voltados para a paz universal? Quem nos quer inermes, tolerantes e solidários? Tolerantes, solidários com quem? Inermes frente a quem? De quem, prioritariamente, nós, um povo formado por indivíduos de todas as origens possíveis e imagináveis, podemos e devemos evitar o sofrimento ao nos dedicarmos ao bom convívio entre os povos? Sobre quem devemos evitar que recaiam os impactos de nossas ações?
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6º movimento – OS VERDES MUROS DOS JARDINS DA PAZ
“Série lançada pelo Greenpeace na web traz duras críticas aos presidenciáveis. … Intitulada “Camarim dos candidatos” … os principais candidatos a presidente da República são representados por bonecos articulados. … Dilma Rousseff (PT) vira “Dilma Ruchefa”; Eduardo Campos e Marina Silva são representados por gêmeos xifópagos, chamados “Eduardo dos Campos” e “Marina da Selva”. Já o candidato do PSDB, Aécio Neves, foi rebatizado de “Aécio das Neves”. Na paródia, sobrou até para o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, aqui chamado de “Lola”. … a ONG dedicará parte do programa a criticar a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que … será tratada como ‘crente’, sempre subordinada a Campos, que terá o apelido de ‘zoiúdo’”
www.bahiatodahora.com.br/noticias/greenpeace-critica-marina-silva
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Além de escolher, só algo mais vem sendo preciso: escrachar. Escrachar é preciso, viver não. Portanto, escrachemos. Escandalizemos os espíritos de boa vontade e os de má vontade. Tiremos uma foto do que já está inteiramente degradado ou em irreversível processo de degradação, de tudo o que mostre miséria e imundície no “meio ambiente”. Não nos esqueçamos de nos colocar em primeiro plano e de sorrir. Apesar de tudo, a vida é bela. E haveremos de querer, por certo, mostrar-nos muito bonitos nessa foto, para contrastar com todo o resto. Ou vertamos lágrimas. Elas também são bonitas, refletem à qualquer luz que lhe seja lançada. Em seguida, publiquemos no Facebook…
A foto sairá melhor ainda se for tirada de cima do muro. Quanto mais alto for o muro, mais impressionante será a foto. Mesmo que esse não seja exatamente o melhor lugar para tentarmos ajeitar a nossa coluna vertebral na melhor postura, a mais imponente, a mais correta e a menos incômoda, equilibremo-nos e vamos! Não será por toda a vida. Mais dia, menos dia, alguém puxa, alguém empurra, a chuva incomoda, um marimbondo pica, a fome rosna, além de que ninguém consegue se manter por muito tempo sem perceber que, empoleirado a repetir preceitos como um papagaio, estará bancando o paspalho, e pulará. O problema é bem escolher para que lado do muro pular.
Em vez enfrentar tanto risco, o que, aliás, pode ser muito divertido, que tal começarmos a pensar seriamente em dar solução às nossas próprias ilusões e fantasias para que possamos dar solução aos nossos problemas, aqueles que nós podemos resolver? Sejamos conseqüentes; exijamos de nosso "líderes" que nos apresentem projetos conseqüentes, não os que apenas nos pareçam bonitos ou novos – velhos projetos que nos parecem feios poderão se revelar como sendo os mais prementes e mais necessários; exijamos que nos projetem os resultados de suas promessas de palanque quando articulados com o resultado de outros projetos, os deles mesmos, particulares, e os de gente mais poderosa que nós porque é gente que acredita na Política e no Poder; exijamos que projetem e nos enunciem aqueles resultados que nós sentiremos na pele, não os que qualquer "espírito superior" nos cochiche a pé do ouvido como sendo os que devem ser desejados. Para que possamos avaliá-los com a responsabilidade que nos deveria ser exigida por nós mesmos, por ninguém mais. Pensemos em qual poderia ser o elemento capaz de catalisar essa verdadeira mudança, uma mudança de perspectiva e de expectativas – que nada destruiria, porque destruir o indestrutível é impossível e o mal é indestrutível porque a estupidez é inexterminável, portanto o mal só poderá ser controlado ou contornado, mas anularia as perspectivas e as expectativas atuais que provocam, estas, sim, que a nossa Política se transforme nessa gosma fedorenta que nos intoxica, nos dá tombos, nos lambuza, nos quebra as pernas…
Sem que nos preocupemos com coisas que possam nos parecer tão comezinhas quanto essas, que parecem nem sequer merecer nossa preocupação, os projetos e os programas que ouvirmos dos palanques, enunciados por ONGs ou por Empresas comerciais e financeiras, agora, em época de eleição, por Partidos políticos, mesmo por quem tiver pureza na alma e amor no coração, serão apenas "alegres" como o discurso dos bêbados e os sonhos dos visionários; e, tal qual bêbados e visionários, poderemos interpretá-los da maneira como bem entendermos interpretar.
No fundo, no fundo, propostas e programas tão grandiloqüentes, “politicamente corretos”, que nos vêm sendo propagandeados, são nenhum, são apenas incentivos a que continuemos levando adiante uma situação que nos condena a nos satisfazer com xingar a mãe do guarda, com nos expor ao ridículo e com rir das piadas bobocas e de muito mau gosto, quando não produzi-las, a respeito de nós mesmos.
O deboche – e o escracho é nada mais do que deboche – é o meio mais rápido, mais fácil e mais eficaz que podemos encontrar para criticar qualquer coisa e qualquer um. Só não é meio de produzir alguma crítica que de fato sirva para alguma coisa além de… debochar.
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7º movimento – ASCENSÃO E QUEDA DO INTERESSE COLETIVO
“As pessoas que o governo Lula tirou da pobreza decidirão com seu voto o resultado das urnas em 5 de outubro … Trata-se de uma classe social de novos consumidores e chave do ponto de vista eleitoral. Seu poder aquisitivo, além de fazer disparar o consumo interno, poderoso motor da economia, revolucionou, na última década, o perfil do brasileiro médio. Este chega à universidade, tem acesso à tecnologia, conta em banco, acesso ao crédito, compra roupas de marcas, investe em um carro, e muitos já têm sua casa própria. … Um conserto em casa ou um gasto mal calculado significa entrar em números vermelhos em um dia a dia no qual não pode pagar quase nada à vista.”
eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/2014/09/27/el-pais-nova-classe-media-e-chave-nas-eleicoes-presidenciais-do-brasil.htm
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“Após 24 anos representando São Paulo no Senado, Eduardo Suplicy (PT) considera sua atividade na Casa digna de Pelé. ‘Se você fosse técnico e Pelé estivesse jogando muito bem, você iria se desfazer dele?’, pergunta.”
www1.folha.uol.com.br/poder/2014/09/1523296-se-pele-ainda-jogasse-bem-voce-iria-se-desfazer-dele-pergunta-suplicy.shtml
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“O que se diz, em geral, é que a expectativa marinista de governar com bons nomes de qualquer partido, com Serra ao lado de Suplicy, acaba sendo insustentável. Haveria aqui – mais do que nas suas crenças evangélicas – um componente religioso na postulação de Marina. Os homens (e mulheres) de boa vontade, não importando seus compromissos e filiações de classe, podem militar pelo interesse coletivo. Esse tipo de esperança deixa desconfiado todo analista político. Quem quer que tenha passado por um curso de sociologia, ou tenha folheado alguma coisa de Marx, sabe que os interesses de classe falam mais alto do que as intenções de fazer um governo ‘bom para todos’.”
www1.folha.uol.com.br/colunas/marcelocoelho/2014/09/1513307-marina-pros-e-contras.shtml
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Tentemos compreender não exatamente o argumento, mas a premissa do argumento do último texto acima transcrito, sem entrar em méritos e deméritos de qualquer um dos nomes citados. Qual poderia ser? Só pode ser mais ou menos a seguinte: o Brasil é um País extraordinariamente privilegiado.
Nenhum outro País, mesmo os mais desenvolvidos, já contou com tão grande número de tão bons analistas esportivos, por exemplo, especialmente os dedicados ao esporte das multidões. E, há algum tempo, praticamente todos os bons brasileiros, mesmo que nunca tivessem chutado uma bola, sentiam-se em perfeitas condições de chutar palpites e de substituir, com vantagens, qualquer técnico que pudesse ter sido designado para orientar seu time do coração ou mesmo a nossa Seleção.
Bastou, porém, que o ingresso nas Faculdades fosse ampliado para que, em qualquer delas, pipocassem novas vocações correlatas. E muitos imediatamente compreenderam que uma análise política, que deve ser uma análise crítica, não apenas uma crítica, será de nível superior à análise esportiva e à crítica feita por esporte. Todos os que tiveram a oportunidade de passar por um curso de Sociologia passaram a poder descrever os chutes com mais precisão. Sem o risco de serem apontados como responsáveis por um 7X0, que seria responsabilidade exclusiva da “classe dominante”.
Se ninguém indicou ou procurou ler qualquer compêndio de Sociologia nos cursos de Sociologia, o que por certo foi considerado ultrapassado e desnecessário, saber alguma coisa de Marx foi mais rápido, menos entediante e mais eficaz, pois, além de fornecer suficiente conhecimento “filosófico” – a certeza de um “dever ser” –, animava muito mais a torcida. Algum axilar conhecimento adicional dos títulos dos principais seguidores desse grande mestre que, com a certeza de que “assim seria se assim fosse”, ensinou como levar em ziguezague a bola nos pés à porta do gol – e todos se tornaram especialistas em análise política.
Foi assim que a Sociedade se entupiu de Peters Pans e de Fadas Sininhos a distribuir fartamente o pó de pirlimpimpim, muitas vezes obtido no comércio misturado a outros pós mais pesados, para que milhões pudessem voar à Terra do Nunca e combater com seus dribles o Capitão Gancho da injustiça social. São milhões de revolucionários hoje no Brasil. Porque a boa “filosofia” deve ser revolucionária, e a boa “história”, assim como a chamada “Ciência Política” ensina, revolucionária é. Por quê? Porque é, ora. Porque “deve ser”. O resto é o resto. Inclusive a realidade.
Transformar uma realidade que nos pareça injusta corrigindo seus vícios não será tão difícil assim. Bastará querer e cercar-se das condições de poder. Transformar a realidade em outra realidade, porém, por mais que imaginemos que estamos com a bola toda, ninguém conseguirá, muito menos o conseguirá com elementos só encontrados em um “dever ser”. O “dever ser” é uma utopia, e utopias são ficções, são criações do espírito, são histórias da carochinha para ser contadas do alto dos palanques, mesmo se esses palanques estiverem no bico de uma pena ou no teclado de um computador. E qualquer utopia que parta do pressuposto de que o interesse coletivo não existe, que existirá apenas o interesse “de classe”, será mais ainda que suspeita – caso se afirme como “realizável”, não servirá sequer como indicação a qualquer idéia de combate contra um estado de injustiça social.
Mesmo sem ter freqüentado qualquer curso de Sociologia, qualquer um que some dois com dois e encontre quatro – serão poucos no País em que “quatro para treze dá sete” – há de pelo menos desconfiar não só de que uma “classe” será um coletivo, como também de que qualquer coletivo não terá qualquer vontade, qualquer inteligência ou qualquer comportamento independente da vontade, da inteligência, do comprometimento e do comportamento observados nos indivíduos que o compõem. E desconfiará que o interesse atribuído a uma “classe social”, qualquer uma, apenas poderá ser entendido como o interesse que indivíduos têm em manter ou ampliar o seu grau de fruição dos bens produzidos pela Sociedade (ou os importados…). Poderá desconfiar também de que esse interesse permeia todas as classes, será comum a todas elas; e de que, muito embora os indivíduos o experimentem, as classes sociais não experimentam, jamais, em tempo algum, o fenômeno da ascensão social. Determinadas políticas públicas poderão favorecer o interesse dos indivíduos, o de muitos deles, o de todos eles ou apenas o de alguns, nunca os de uma “classe”.
Em dados momentos, porém, raros momentos, mas são momentos que estão na realidade, será perfeitamente possível perceber que a consciência de cada um de que todos dependem de todos em determinado território fará que um interesse supra-individual induza a coincidência de atitudes de grande parte desses indivíduos. Em determinado sentido. Em benefício do interesse do todo, ou seja, do… interesse coletivo.
Daí a que os indivíduos que se incluam em uma “classe” porque tenham o mesmo grau de fruição ou não-fruição dos bens produzidos pela sociedade, pensem, creiam, queiram a mesma coisa em conjunto e caminhem sempre como um bloco coeso, há um abismo. A menos que tenham sido todos lobotomizados por processos inerentes ao movimento de suas contas bancárias. Que é o que nos autoriza a esperar que um gari que ganhou na loteria comece a pensar, a querer e a se comportar de maneira igual ou semelhante à que pensam, querem e se comportam os que se tornaram igualmente ricos porque cometeram alguma falcatrua? (noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2014/09/23/gari-londrino-ganha-r-175-mi-na-loteria-e-vai-trabalhar-no-dia-seguinte.htm)
Ninguém se “filia” a uma “classe”. Nenhuma “classe” entre as que possamos idealmente fragmentar a Sociedade exigirá “compromissos” de supostos “filiados”. “Classe” é um recurso que utilizamos quando queremos sistematizar alguma coisa, para o que é necessário organizar seus elementos mentalmente. “Classe social” é uma abstração, não existe na realidade. Cada uma das classes em que a Sociedade possa ser dividida poderá ser também dividida em grupos de interesse que por sua vez poderão ser sucessivamente divididos em outros tantos até que, ao tentar dividir mais uma vez, apenas reste o indivíduo. Até Marx sabia disso, embora seus seguidores não façam questão de saber. Os interesses de cada grupo que se observam no interior das “classes”, ainda que sejam primordialmente ou apenas também econômicos, não serão um único, nem mesmo necessariamente serão conflitantes com o interesse de outras “classes”. Mas aí o sistema que possamos tentar montar se complicará muito… será difícil explicar.
Será, então, muito mais fácil enxugar tudo isso em poucos títulos. Para quê? Na maior parte das vezes, para nada. Ou para produzir uma “análise política”. Ou para brincar de fazer “revolução” em nome do interesse de um ente considerado superior a todas e quaisquer organizações sociais efetivamente constituídas na realidade, que será denominado como “a humanidade”. Tanto faz.
Não deixa, pois, de ser muito interessante e divertido observar, da perspectiva sociológica, os “sociólogos” tentando reduzir os conceitos sociológicos ao que encontram nos livros de Marx que costumam folhear nos fins de semana chuvosos e transformá-los em dogma disciplinar. Como somos milhões de “revolucionários de carteirinha”, sobra quase ninguém para contestar. E menos gente ainda para tentar fazer alguma coisa útil, tal como se preocupar com um bom governo, que desperte o interesse coletivo, que governe em benefício do nosso interesse – o dos brasileiros no coletivo.
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8º movimento – ORGULHOS E PREJUÍZOS – SEM PRECONCEITOS
Há uns tempos, o asco que me assaltava em época de eleições (e nos intervalos entre as eleições) era tamanho, que, apesar de ser absolutamente avessa a qualquer coisa que sequer cheirasse a “apolitismo”, eu sempre anulava meu voto. Esta seria uma postura política válida, de denúncia, acreditava eu. E tenho absoluta certeza de que não foi porque agi dessa forma que o PT ganhou a Presidência por três vezes consecutivas, ou que o PSDB, antes, pôde ganhar por duas.
As razões e os argumentos dos candidatos em campanhas não se alteraram, continuam quase os mesmos, apenas se aperfeiçoaram, e nunca haverá na história deste País situação eleitoral tão medonha quanto a que agora enfrentamos. Mas, se o meu asco a ninguém sensibiliza, talvez nem mais a mim mesma, resolvi equacionar os problemas que saltam aos meus olhos de um jeito diferente. Resolvi também apostar como todo mundo vem apostando. Não em algum “líder” do nada para o coisa nenhuma, não no “menos pior” entre os tantos que se apresentam, mas na única candidatura que me permite manter a esperança – que poderá vencer o medo de ter que enfrentar, em um 2º turno, uma disputa entre a Gorda e a Magra – de que levemos bordoadas mais leves no início de um próximo governo, antes que ele se assente mais confortavelmente, e, menos atordoados, tenhamos a possibilidade de começar a querer pensar em nosso País de maneira mais séria para evitar os mesmos impasses a cada quatro anos. Talvez tenhamos uma pausa na discurseira que entope nossos ouvidos e nos embota o cérebro, e nos ocorra pensar, apesar dos pesares, em tomar vergonha definitivamente; em esboçar para nós mesmos um roteiro menos pastelão, menos bangue-bangue, mais tecido firme e menos paetê, menos sonhático (será que o Houaïss já acrescentou esta palavra?), menos orgulhoso de coisa nenhuma, com mais juízo, mais decente, menos burro… Quem sabe?
Votarei, então, em Aécio. Porque “todo brasileiro tem orgulho de lembrar que um dia teve no poder um presidente como Fernando Henrique Cardoso" como quer certo empresário paulista? Não. Que orgulho poderia sentir ao lembrar que Fernando Henrique Cardoso chegou ao poder? Por que sentiria orgulho? Voto em Aécio porque é quem poderá desarticular o continuísmo daquilo que o PT representa, continuísmo que se dará seja com a Gorda seja com a Magra na Presidência. E porque, conforme reforça essa idéia o “venerável” José Serra, “o PSDB não tem vocação para colocar fogo no País” (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/09/1523376-o-psdb-nao-tem-vocacao-para-colocar-fogo-no-pais-diz-jose-serra.shtml).
A continuar a tendência que essas pesquisas do Ibope e do Datafolha insinuam, talvez… quem sabe? Mas Aécio poderia dar um basta ao processo de exaustão de nossas instituições e de diluição da nacionalidade que o próprio PSDB promoveu, poderia representar o fim da demagogia de “centro-esquerda” cujo espectro abarca todas as agremiações eleitorais exceto as radicais, poderia destruir ou aposentar a máquina que engole e tritura o nosso Estado? Não. Talvez nem avente tal pretensão, herdeiro direto da “virtuosa” escola política do velho Partido Social Democrático que é. Apenas por algum tempo desestabilizará essa máquina, ao desestabilizar alguns dos interesses excessivamente estabilizados daqueles que hoje dela usufruem. Porque esses interesses atuais não terão como se manter amparados sem contar essa máquina ou não terão meios de se justificar. O que não fragilizará as engrenagens articuladas há muitos e muitos anos e muito bem lubrificadas por aqueles que substituíram a soberania nacional pela integração supra-nacional impondo-nos a ditadura do pensamento “politicamente correto”, os que adubaram essa histeria contra o Estado nacional que hoje se vê, que não permite que ele se ponha bem constituído e bem regrado, e apenas se preste a distribuir nossos recursos que são esbanjados conforme os delírios dos governos A ou B ou C determinem que sejam.
Em uma breve e pequena brecha, aberta pela cessação da efervescência do conflito das diferentes vertentes do “politicamente correto”, residirá a oportunidade que nos poderá ser oferecida. Teríamos uma oportunidade para tomar de assalto o Estado? Não, nada disso – esse Estado já quase nem existe. Sabemos que não suportará golpes de qualquer espécie. De consagrar alguma liderança consistente? Quem? Com que projeto? Apenas a oportunidade de começar a querer pensar em nosso Estado com certa autonomia, com certa racionalidade sadia. E quando a gente começa a fazer isso, é difícil querer parar… porque a gente vê resultados. Resultados muito gratificantes.
Mas, e se, no 2º turno, a disputa se der, mesmo, entre a Gorda e a Magra?
Nesse caso, nem uma nem outra terá o meu voto. O meu, não. Nem que a vaca tussa. Nem que dos céus caiam relâmpagos de ira santa. Porque nem sequer uma troca dos seis por aquela meia dúzia será feita. E não estou falando de indivíduos, não – estou falando de perspectivas, de idéias, de expectativas. Retrocedo porque me tenho apreço. Porque não faço escolhas com o fígado nem com o coração – faço-as exclusivamente com a minha cabeça. E porque asco tem limite, mas tolerância também tem. Se não, a tolerância se transforma em cumplicidade. Porque – conforme já havia dito o Vinícius de Moraes, muitos e muitos anos antes que outro agora o pudesse plagiar e já prevendo que “uns anos mais” neste nosso País se veriam “cem milhões só de Pelés e de violões“ – “eu não tenho nada a ver com isso” e muito menos quero ter. O meu grau de civilização, que não deve ser o “menos pior” (entenda isso como queira quem quiser entender), não me permite ceder a essa cumplicidade. Porque, se Rousseff passou muito da conta, esbanjou asnices, Osmarina promete conseguir sobejá-la, portanto, é demais. Porque, se ninguém, entre os que poderiam tomar, toma qualquer providência contra tudo isso, é que, estando “menos pior” o que poderia estar pior, estará tudo muito bom para todo mundo. Então, para que votar? Apenas para que mais um voto justifique a justificativa do injustificável? Não voto, não. E essa postura política, que é válida, poderá inclusive ser compreendida como sendo a mais elegante, “pro-ativa” e democrática possível, de adesão integral à vontade e às expectativas de nossa maioria quase absoluta…
Ou não?
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Acordes finais riten. pianissimo
Da capo
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