AUGUSTO HELENO

 
 
 
“ … general Heleno …  gosta de repetir uma afirmação pouco convicta sobre os valores democráticos. “Democracia é quando eu mando em você. Ditadura é quando você manda em mim”, diz, citando uma frase cubana. … o movimento “general Heleno presidente” alcançou nas últimas semanas o apoio de 5,7 milhões de eleitores. Uma ordem de grandeza respeitável em qualquer circunstância. … o general Heleno … rara liderança fardada nascida após a democratização do País, tem tudo para se transformar na principal estrela de um movimento de caráter simbólico. … O certo é que, com o apoio que tem recebido, o general não será um eleitor qualquer. … Os militares que se articulam em volta de Heleno pretendem formar o Partido Militar Brasileiro, PMB … os candidatos que apoiam a criação do PMB estão espalhados por outros partidos … O deputado comunista Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), delegado da Polícia Federal que fez fama na Operação Satiagraha, já assinou sua ficha de apoio … costuma pedir aos eleitores que façam o mesmo. (…) Longe da política, mas famoso no meio militar, o primeiro astronauta brasileiro, o coronel da Aeronáutica Marcos Pontes, também fará parte do diretório de São Paulo. O vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, Eliezer Rizzo, analisa a emergência do descontentamento militar como parte do descontentamento geral do funcionalismo com os salários. … um movimento dessa natureza faz parte natural dos regimes democráticos …Os militares estão misturados à política brasileira desde a Proclamação da República, que foi obra de um golpe militar. Depois de Deodoro e Floriano, os dois primeiros presidentes, o Brasil teve um terceiro general presidente, Eurico Dutra.”
 
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    1. O General Augusto Heleno estúpido não é – nem muito, nem pouco, nem de perto, nem de longe; é um sujeito inteligente, bem educado, bem humorado, e demonstra ter posições políticas bastante firmes e bem fundamentadas. O texto da reportagem da ISTOÉ, transcrito abaixo na íntegra, aponta-o como “principal estrela de um movimento de caráter simbólico”; afirma que o apoio de que goza é “respeitável em qualquer circunstância”; destaca, não se sabe bem por quê, ou para quê, que o General Augusto Heleno “gosta de repetir” uma frase sobre a “democracia” (“uma frase cubana” ou uma frase do saudoso Millôr Fernandes? Há que pesquisar…) que só não será interpretada como sendo dita por ironia por quem for muito estúpido.

 

    2. O texto dessa reportagem desconsidera em nossa História, além de outros fatos mais, a gestão de Hermes da Fonseca (embora sua foto e seu nome conste da figurinha “fardas nas urnas” – mas quem é que lê as legendas de figurinhas? O que vale é o texto…). Por maioria dos votos, derrotando Rui Barbosa, o Marechal Hermes da Fonseca foi eleito à Presidência da República brasileira, aquela que teria sido “obra de um golpe militar”… Ele, não Gaspar Dutra, foi o terceiro Oficial Militar a ocupar a Presidência depois dos dois primeiros, Deodoro e Floriano, e depois de cinco civis.  Nunca (até hoje) alguém terá ou poderia ter insinuado que Hermes da Fonseca tivesse dado um “golpe”. E será muito interessante procurar saber a respeito de sua gestão: 1910-1914.

 

    3. As Forças Armadas brasileiras não são uma facção. São as nossas Forças Armadas. E não deveriam ser – nem deveriam querer ser – amparadas por um único Partido no Congresso. Nem deveríamos, todos nós, desejar que isso pudesse ocorrer. E o “descontentamento geral do funcionalismo com os salários” não será razão suficiente, em tempo algum, nem aqui, nem na Conchinchina, para justificar a criação de um Partido corporativo, mesmo que pretenda atender ao “descontentamento militar”, mesmo que “militar” em sentido muito amplo. 

 

    4. Marcos Pontes é um Oficial da Aeronáutica na Reserva. Deve ser um bom piloto. Foi, de carona, em 2006, conferir o que estava escrito nas estrelas, passeio que nos custou, por baixo, uns 40 milhões de reais, e, assim que desceu do foguete e foi condecorado por Lula da Silva, exato um mês depois, puxou o carro da Ativa. Que terá Marcos Pontes, de tão especial, a contribuir com a orientação dos rumos da Política nacional?

 

    5. Protógenes, de “milico”, só tem o prenome – o de um Almirante da Marinha que, entre outros feitos, organizou em 1924 um movimento cujo objetivo era incitar o levante em diferentes pontos do então Distrito Federal em apoio aos “tenentes” insurrectos. Ele é um Delegado de Polícia licenciado. Filiou-se num 07 de Setembro, sugestiva data, ao PCdoB, linha auxiliar do Governo atual que só diverge abertamente do PT em dias de baderna nas ruas. Dizem ter ele afirmado que o fez porque o PCdoB tem um considerável “histórico de luta pelo povo brasileiro” e “profundos ideais éticos”. Protógenes senta-se no Congresso graças aos votos dados ao Tiririca, do PR. Que pretenderia Protógenes levar em sua mudança a um “Partido Militar Brasileiro”? Ou… por onde e para onde pretenderia levar esse Partido?

 

    6. Se, para apoiar as posições políticas que o General Augusto Heleno inequivocamente defende, for preciso apoiar os vôos de Marcos Pontes, os mergulhos de Protógenes e as corridas e derrapadas de qualquer indivíduo, a coisa se complica. E se complica muito.

 

    Pois bem. A reportagem transcrita abaixo, na íntegra, começa apontando o “respeitável em qualquer circunstância” número de indivíduos, militares e civis, que comungam de idéias expostas pelo General Augusto Heleno – que não seria “um eleitor qualquer”, ou seja, seria um eleitor influente. Inexistindo qualquer indício ou manifestação de que ele pretenda candidatar-se a qualquer cargo público, a reportagem contempla quem candidato não é, mas é uma incontestável liderança política, com o título de “o candidato dos milicos”, parecendo querer resumir suas idéias todas, algumas das quais enunciadas no texto, a uma única frase “pouco convicta dos valores democráticos”. E considera tempestiva a menção ao apoio que uma hipotética candidatura dessa “liderança simbólica” à Presidência da República recebe, desde já, de figuras públicas de duvidosos atributos e de um Partido político ainda não constituído. Por quê? Para quê?

 

     Ao publicar essa reportagem, a revista ISTOÉ “independente” nos parece estar visando a apenas um único objetivo: complicar o descomplicado, confundir o bem explicitado, desaglutinar o minimamente aglutinado, e, por antecipação, tentar desconstruir uma virtualmente “ameaçadora” liderança que possa vir a se afirmar nacionalmente alicerçada em valores corretos e em corretas expectativas nacionais. 

 

   Antes de que alguém, por qualquer motivo, possa entusiasmar-se com essa reportagem, seria conveniente, pelo menos, ponderar…

 

    Imprensa cretina…!!

 
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Brasil |  N° Edição:  2310 |  28.Fev.14 – 14:00 |  Atualizado em 04.Mar.14 – 18:37

O candidato dos milicos

Movimento surgido na caserna e que já conta com o apoio de mais de cinco milhões de pessoas quer lançar o general Augusto Heleno, chefe da missão brasileira no Haiti, para concorrer à presidência da República

Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br)

Aos 66 anos, o general Augusto Heleno Ribeiro Pereira é um fenômeno que não aparece nas pesquisas de intenção de voto nem frequenta as análises políticas convencionais. Na internet, porém, sua eventual candidatura à Presidência da República tem feito sucesso. Conforme dirigentes de 68 associações de militares da reserva, que costumam refletir o pensamento de boa parte da caserna, o movimento “general Heleno presidente” alcançou nas últimas semanas o apoio de 5,7 milhões de eleitores. Uma ordem de grandeza respeitável em qualquer circunstância. Apesar desses números, o general Heleno, que foi comandante militar da Amazônia, e também esteve à frente das tropas da ONU que mantêm a ordem no Haiti, construindo uma rara liderança fardada nascida após a democratização do País, tem tudo para se transformar na principal estrela de um movimento de caráter simbólico. Oficial da reserva desde maio de 2011, ele teria de ter preenchido alguma ficha de filiação partidária até outubro do ano passado para poder disputar a eleição e até agora não se posicionou sobre isso. Seus aliados não confirmam nenhuma vinculação partidária do general, embora também não descartem a possibilidade de este ser um segredo estratégico. O certo é que, com o apoio que tem recebido, o general não será um eleitor qualquer.

POLÊMICO – O general Augusto Heleno: ele disse que a política indigenista do governo Lula era “lamentável, para não dizer caótica”

O sucesso do general na internet tem explicação. Num universo político em que os principais candidatos têm uma postura que admite apenas mudanças de tonalidades cinzentas entre o centro e o centro-esquerda, com receio de descontentar eleitores desconfiados da propaganda eleitoral, o general apresenta um discurso conservador que um bom número de eleitores gosta de ouvir. Ele tornou-se uma celebridade instantânea ao dizer que a política indigenista do governo Luiz Inácio Lula da Silva era “lamentável, para não dizer caótica,” afirmação que lhe custou o comando militar da Amazônia. De lá para cá, ironizou o “passado ilibado” de Renan Calheiros, criticou a política econômica do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e chamou o acordo do Mercosul de um “mero tratado bolivariano”. Heleno já definiu o ex-ministro José Dirceu  como o “maior colecionador de rabos presos” da República. Aliados e amigos do general afirmam que, ainda que a legislação impeça uma candidatura própria, irão entrar na campanha como parte de um “movimento anti-PT.” O capitão Augusto Rosa, um dos mais ativos aliados do general, faz críticas ao programa Bolsa-Família que a oposição civil abandonou há muitos anos. “Estamos criando uma geração de pais vagabundos que não servem de referência para os filhos.”

O discurso conservador não faz do general Heleno um defensor do golpe militar de 1964, mas aos mais próximos ele gosta de repetir uma afirmação pouco convicta sobre os valores democráticos. “Democracia é quando eu mando em você. Ditadura é quando você manda em mim”, diz, citando uma frase cubana. A boa notícia em torno da liderança do general é que, desde a redemocratização do País, é a primeira vez que se consolida entre as Forças Armadas um movimento que pretende se valer do voto e das vias democráticas para colocar suas posições. Os militares que se articulam em volta de Heleno pretendem formar o Partido Militar Brasileiro, PMB, que anuncia ter conseguido filiar 490 mil eleitores para obter registro no TSE – se todas as fichas forem regulares, faltarão 80 mil para que possa chegar ao registro definitivo. Por enquanto, a exemplo do que acontece com os simpatizantes da Rede, de Marina Silva, os candidatos que apoiam a criação do PMB estão espalhados por outros partidos ou usando o PRTB como “sigla franqueada” para disputar as eleições de 2014. O deputado comunista Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), delegado da Polícia Federal que fez fama na Operação Satiagraha, já assinou sua ficha de apoio e milita pela criação do partido. Através de seu site, Protógenes costuma pedir aos eleitores que façam o mesmo. Outro aliado seguro é o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que se dedica a organizar o partido no Rio de Janeiro e é um nostálgico assumido da ditadura. Longe da política, mas famoso no meio militar, o primeiro astronauta brasileiro, o coronel da Aeronáutica Marcos Pontes, também fará parte do diretório de São Paulo.

O vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, Eliezer Rizzo, analisa a emergência do descontentamento militar como parte do descontentamento geral do funcionalismo com os salários. No governo Lula, relembra, o Planalto investiu em plano de recuperação salarial do funcionalismo e ganhou a simpatia geral, inclusive dos fardados. Mas essa política foi abandonada no governo Dilma, levando a uma reação previsível nas repartições e na caserna. Para Eliezer Rizzo  um movimento dessa natureza faz parte natural dos regimes democráticos. “É preferível ter um partido pró-militares disputando eleições a ter grupos em atitude de confronto com o sistema democrático. Grande parte da população considera a democracia como frágil, corrupta, inoperante, como se um regime forte e antidemocrático não padecesse de situação similar. Mas o regime democrático pode perfeitamente incorporar essa iniciativa.”

Os militares estão misturados à política brasileira desde a Proclamação da República, que foi obra de um golpe militar. Depois de Deodoro e Floriano, os dois primeiros presidentes, o Brasil teve um terceiro general presidente, Eurico Dutra. Além deles, no pós-guerra surgiram dois candidatos competitivos, ainda que derrotados nas urnas, o brigadeiro Eduardo Gomes  e o general Henrique Lott. Uma diferença é que esses candidatos nasceram no interior de partidos civis, enquanto o movimento que carrega o general Heleno nasceu no universo militar, em suas famílias e associações de reservistas. Os militares têm causas que seduzem muitos eleitores, como o combate às cotas raciais e também ao casamento entre homossexuais. Sua agenda, no entanto, tem vários elementos típicos da caserna.

O Partido Militar Brasileiro denuncia a investigação conduzida pela Comissão da Verdade em torno dos crimes do regime como uma forma de revanchismo. Embora determinadas atitudes da Comissão possam mesmo estimular a interpretação de que se trata de um movimento “revanchista”, ela cumpre um papel necessário, indispensável à democratização que se defronta com a memória da tortura. No próximo 31 de março, data que foi retirada do calendário das celebrações militares pela presidenta Dilma Rousseff, o general Heleno vai dar uma palestra sobre a deposição de João Goulart para um grupo de maçons de Brasília. 

FOTOS: JOEDSON ALVES/AGêNCIA ESTADO/AE, Roberto Castro / AG. ISTOÉ; Anibal Philot / Agência O Globo; Cris Komesu/Folhapress

 

  

 

 

 

 

  

  

 

 

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